MEU NOME É MULTIDÃO
Organizado
por Lara Montezuma, jornalista de O
POVO
Airton Monte: Dia de ficar alegre
Ponto
de vista escrito pelo jornalista e cronista Demitri Túlio.
"Somente
numa mesa de botequim é que se realiza a verdadeira e legítima
democracia". Para o momento, Airton Monte não poderia estar tão vivo entre
os mamíferos de dois pés que ainda habitam a provinciana cidadela do mar. O
médico não parecia um "doutor", era desses sujeitos iludidos com a
literatura. Graças a Deus (na verdade, a São Francisco), ao Fortaleza e ao
Botafogo. Não sei em qual momento tivemos uma paixonite um pelo outro. Talvez o
escritor e o repórter.
Paixão
infiel já na última década de seus dias por aqui. Dessas de só ter abraços
sinceros quando, raramente, nos encontrávamos ou eu inventava de levá-lo para
conversas-entrevistas com os alunos da Uni7. Olhos por trás dos óculos fundo de
garrafa, boina feia nos cabelos lisos e o livro "Moça com flor na
boca" dentro de saco de mercantil. Foi um dos últimos encontros. O último
fomos entrevistá-lo, em sua casa, para as Páginas Azuis do O POVO. Lia de
Paula, Eu, Felipe Araújo, Cláudio Ribeiro e Luiz Henrique Campos.
Já
lia suas crônicas. Gostava da maioria, mas reclamava quando se metia a
machista. Tão declarado para Sônia e muitas vezes, metido a macho sem precisão.
É porque sempre idealizamos quem escreve. E somente dentro de casa, no
cotidiano imperativo, sabemos da alma e do corpo do cronista. Era um rapaz
gente boa com defeitos e delícias. Hoje, dia de sua partida, não vou sentir
pena por não estar entre nós. Vou ficar alegre por tê-lo convivido entre
páginas do jornal, bilhetes e encontros marcantes. Viveu o que tinha de viver,
frescou, farreou o Benfica, fumou o quanto quis, amou Sônia. Também fez raiva a
ela e à Bárbara, foi bajulado e deixou uma prosa escrita para quem quiser
visitá-lo vivo ainda. Vivinho da Silva."
Fonte: O POVO, de 10/09/2022. Vida & Arte. p.3.
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