Por Lara Montezuma
(*)
O arquiteto e urbanista Neudson Braga conheceu
Liberal de Castro antes mesmo de começar sua carreira na profissão, ainda no
Rio de Janeiro. Depois de chegar em Fortaleza, o profissional firmou uma
parceria de anos com o cearense. Juntos, eles integraram a primeira equipe da
Escola de Arquitetura e projetaram outros tantos edifícios importantes para o
Ceará. Em depoimento ao O POVO, Neudson relembra os anos ao lado do amigo e
corrobora a relevância de Liberal.
Encontro
“Eu conheci o Liberal antes de ser arquiteto,
estudei na mesma universidade que ele no Rio de Janeiro. Depois eu recebi um
dos primeiros trabalhos importantes que ele fez aqui, a ampliação do Colégio
Cearense, e fiquei muito empolgado. Quando cheguei em Fortaleza, recebi um
convite do reitor para assumir um cargo no Departamento de Obras da UFC e quem
me recepcionou foi ele, no comecinho de 1960, talvez fevereiro. Como eu vinha
do Rio, da mesma faculdade dele, a gente começou a conversar e a ter mais
afinidade profissional, depois começamos a nos entender como pessoas. O jeito
de agir, a inteligência e a cultura me faziam gostar de conversar com ele.
Começamos também a trabalhar juntos num projeto muito importante, o Plano de
Desenvolvimento da Universidade Estadual do Ceará em 1966, foi a primeira vez
que surgiu a ideia dos campi. Nós
também fizemos o Plano Diretor do Campus
do Itaperi e as primeiras instalações da UECE”.
Parceria
“O Liberal tinha uma cultura extraordinária.
Ele projetava, mas ao desenvolver o projeto ele tinha um certo receio. Então
ele me entregava e eu finalizava os projetos. Ele tinha um escritório, mas
trabalhava mais comigo do que no escritório dele. É uma parceria profissional
que começou nas pranchetas e foi até o fim da vida. O nosso último projeto foi
o Hospital Veterinário. A nossa conduta, até pessoal, é completamente
diferente. Eu sou um homem moderador e ele não, a gente tinha que trabalhar
juntos até para fazer essas compensações. Foi uma amizade que perdurou durante
todo esse tempo sem nenhuma briga, nenhum estágio de discordância. Até mesmo no
futebol, ele é Fortaleza, eu sou Ceará, essas coisas eram bem contrastantes.
Mas, no final, era uma unidade. A gente tinha uma identidade própria”.
Escola
“A Escola de Arquitetura foi criada de uma
forma diferente. De repente chega uma ordem para o reitor dizendo que a Escola
tinha sido criada no decreto do Castelo Branco e seria incorporada na
Universidade. O reitor convidou eu, Liberal, Armando Farias e Ivan Britto para
assumir a Escola. Foi a primeira Escola de Arquitetura, em junho de 1964, e em
1965 já deveria começar. a funcionar. Eu e o Liberal saímos viajando pelo
Brasil, conhecendo pessoas, discutindo programação. A gente saía para comprar
coisas para montar a biblioteca da Escola, que não tinha um livro, dentro de seis
meses virou uma biblioteca modelar, um acervo incrível. Foi tudo feito nesse
começo. Nos móveis, nós fomos às fábricas. Tudo foi comprado por nós dois,
saímos como caixeiros viajantes. Nós fomos muito convidados para eventos, antes
de formar a primeira turma, nós ganhamos um prêmio internacional na Bienal de
São Paulo pela Escola".
Amizade
“É uma amizade que eu considero preciosíssima.
Minha mulher adoeceu e faz hemodiálise há dez anos. Ele telefonava diariamente,
às 19 horas, para me animar e saber dela. É algo emocionante. Quando eu via que
ele estava se aproximando do fim, me dava um desalento saber que aquela cabeça,
aquela memória extraordinária, a cultura.... Ele não era um homem de
arquitetura, era um homem da cultura geral. Foi um homem que abriu a história
do Ceará de uma maneira diferente, ele analisava como arquiteto, do geral para
o particular. Em todos os momentos da vida dele eu estive com ele e estou com
ele através de orações, dos pensamentos. Sempre pensando nos desafios que
enfrentamos juntos. A saudade é profunda, o carinho que as pessoas têm por ele
não é em vão”.
(*) Jornalista. Colunista de O Povo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/09/22. Aguanambi 282, p.17 (Plataforma OP+ Streaming).
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