quarta-feira, 7 de setembro de 2022

A SANTA CASA PRECISA DE MISERICÓRDIA?

Por Vladimir Spinelli Chagas (*)

Em dois momentos trouxe a este espaço comentários sobre a nossa Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza, da qual honrosamente faço parte como membro da Mesa Administrativa.

Nesse mister, ampliei minha visão sobre as necessidades por que passam hospitais filantrópicos como a SCMF, apesar dos esforços que essas instituições despendem em benefício dos verdadeiramente menos aquinhoados.

O pioneirismo da Santa Casa, fundada em 1861, quando Fortaleza não alcançava os 25 mil habitantes, mostrou-se e se mostra em inúmeras realizações. No passado, a implantação do primeiro aparelho de Raio-X e, hoje, ser referência em cirurgias de cabeça e pescoço são apenas dois pequenos e importantes exemplos.

Mas a Santa Casa e as demais filantrópicas parece não serem visíveis para os governantes, de todos os níveis, com as exceções de praxe. Assim, a cada dia o Provedor empreende árduas lutas para, na maior parte das vezes, conseguir aprovação e liberação de recursos a que a Instituição tem direito e a burocracia atravanca.

Recentemente, vimos manifesto do Sindicato dos Médicos mencionando o fechamento de dois hospitais públicos pela administração municipal de Fortaleza e considerando risco iminente para a nossa Santa Casa.

Não podemos acreditar nisso pelo respeito de que desfruta a Santa Casa em todos os níveis. Mas temo que a asfixia financeira que vem ocorrendo possa, de fato, pelo menos reduzir os braços da Irmandade no atendimento ao grande e crescente número de carentes de todo o Ceará.

Para alguns procedimentos, os valores recebidos como contrapartida estão muito aquém de pelo menos cobrirem os custos e ainda são transferidos dentro da malha dos diversos níveis de governo, provocando atrasos prejudiciais ao cumprimento dos compromissos com médicos, enfermeiros, servidores, fornecedores etc.

Por isso a minha pergunta, que dá título a este artigo-desabafo é: a Santa Casa precisa de Misericórdia? A minha resposta é de que não deveria precisar da misericórdia, mas do reconhecimento e respeito por parte de todos, permitindo que o seu trabalho seja ainda mais eficaz e eficiente.

(*) Professor da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do CRA-CE.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/08/22. Opinião, p.20.

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