Por Tales de Sá
Cavalcante (*)
O
grande Ariano Suassuna, por pavor de transporte aéreo, dizia:
"Eu só conheço dois tipos de viagens de avião: as tediosas e as
fatais." Vários outros, entre os quais me incluo, quando em voo, ingressam
felizes numa segunda viagem, a melhor delas, a leitura. Juntos, momentos meus
em aeronaves e seus destinos comporiam um bom livro.
Quem
faz a jornada ser boa é o viajante. De certa feita, meu vizinho no avião, já
com muitos anos vividos, me olhava com atenção. Eu via o jornal, à época em
papel, e, depois de lê-lo, separava o útil do que ia ao lixo. E tudo se repetia
à medida que eu lia, lia e lia. Durante o pouso, ao contemplar o meu paletó e
baseado na minha intensa leitura, disse-me ele: "O deputado hoje
aprendeu muito, não foi?"
Noutra
vez, notei que um colega de voo e de conversa com otimismo vinha de São Paulo a
Fortaleza em busca do conceituado Dr. Huygens para um transplante de
fígado. É que, em matéria de médicos, o Ceará não mais está tão longe de São
Paulo.
Uma
comprovação recente da eficiência de nossos médicos foi uma brilhante atuação
do renomado neurocirurgião Flávio Leitão Filho, que "puxou" ao
pai, também Flávio Leitão, também brilhante médico, mérito que já me foi dito
pelo igualmente notável Dr. Cesar Ponte. Agora, outro amigo médico por ele
recém-operado tanto elogiou a conduta de Flávio Filho, que resumiu os êxitos do
dueto na expressão "tal pai, tal filho".
Flávio
I, desde cedo, orienta Flávio II, até mesmo como professor em Medicina na
UFC. Cometeram cirurgias em conjunto, e, nas atuais intervenções do herdeiro, o
genitor está presente em todas, se não fisicamente, por meio do que lhe
ensinou.
Eles
têm em comum o amor à leitura, às ciências, às artes e, sobretudo, à audição
dos clássicos, por ação da vivência com a mãe e avó, a pianista Adamir Leitão,
e com o pai e avô, José Valdevino de Carvalho, que filosofava, inclusive a
poetizar. As melodias eruditas os acompanham não só nas viagens
desfrutadas juntos. Segundo o amigo, Leitão, a seguir o pai, trouxe a música
clássica à intervenção e regeu o seu ato cirúrgico sob Bach. É a educação a se
conceder pelo exemplo.
(*)
Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente
da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 25/08/22. Opinião, p.18.
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