“Dufrango Kid”
Juro
que, de relance, na pressa do ônibus, a leitura que fiz da placa na parede da
vendinha de galeto (18 reais a unidade do frango assado no espeto) remeteu ao
seriado da TV estrelado por Charles Starrett, filme de faroeste que nós,
meninos, nos anos 1960/70, dávamos o maior valor; cowboy mascarado tão admirado
quanto o Zorro de espada. Achei o preço bom, até porque acompanhava vinagrete e
farofa, e voltei à noite pra levar um "dufrango kid" pra janta. Quase
um quilo, o bichão, bem passado.
Kid,
o dono do estabelecimento, cara muito simpático, fã de Durango Kid, me explicou
tudo, inclusive sobre a máscara preta no galeto da placa que anunciava o
delicioso produto. "É pra ninguém descobrir se é frango ou se é franga o
que eu tô vendendo!"
"Primeiro a erva, depois a
espiga..."
A
pressa é inimiga das criancinhas. Ou, como afirma o homem sábio, "a pressa
é como se a Humanidade desejasse acelerar os acontecimentos num período de
tempo muito curto". Dela, somos vítimas. Que o diga Canuto Júnior
(Canutinho), primogênito do velho Zé Canuto, sempre protagonizando as
inverossímeis desculpas cabeludas do pai. À ultima.
Na
pressa de explicar-se ao chefe por que chegara atrasado ao trabalho, na
sextante sexta-feira passada, o velho Zé Canuto atrapalhou-se todo, colocando o
filhote em maus lençóis:
-
Desculpe, Dr. Jandir, mas...
-
Sei, Zé! Conheço as tuas! - chefe desconfiado.
-
Dessa vez foi demais grave...
-
Teu cachorro fugiu com o tronco da mangueira amarrado no pescoço!
-
Dr. Jandir, hoje eu saí tão apressado de casa, mas tão apressado, que deixei o
menino no fogo e o feijão chorando!!!
-
Jura?!?
-
Quero é cegar na hora da morte!!!
História de família
O
xará Tarcísio (Saraiva de Oliveira), em 8 de dezembro de 2003, me mandou o
interessante causo. "Espero que minha história seja levada a público por
esta respeitável coluna". E será agora, 21 anos mais tarde, mas sempre
atual.
"Morávamos
no interior do Ceará, mais precisamente em Mombaça, distrito de Carnaúba.
Éramos uma família constituída de cinco filhos: Tânia, Zezé, Tarcisio (eu),
Paulo André e Osmar Júnior. Éramos absolutamente traquinos. Certo dia, nossa
mãe, dona Jacira, resolveu nos levar a Fortaleza para conhecermos o mar.
Fizemos uma viagem típica dos matutos. Minha mãe fez um bolo de batata, torrou
uma galinha e a colocou com farinha dentro de uma lata de Neston.
Fizemos
a maior bagunça nesta viagem. Ao chegarmos a Fortaleza, logo no dia seguinte,
dona Jacira, juntamente com Celina, nossa babá, nos levaram à praia.
Inicialmente, ficamos com medo das ondas, mas, de tanto observá-las, nos
encorajamos e passamos a tomar banho e a dar cangapés. Nossa mãe, quando nos
viu adaptados, ficou nos observando à distância.
Passados
alguns instantes, um helicóptero da FAB passou num voo rasante. Nós, que nunca
tínhamos visto algo parecido, saímos correndo em todas as direções. O Zezé,
quando passou próximo à mamãe, por ela foi agarrado. O Paulo foi pego pela babá
Celina. O Osmar Junior, quando já estava distante, foi pego por um soldado de
polícia. Quanto a mim, ninguém conseguiu deter; Somente no dia seguinte fui
encontrado na Rádio Uirapuru de Fortaleza"...
Fonte: O POVO, de 31/05/2024. Coluna
“Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
https://mais.opovo.com.br/colunistas/tarcisio-matos/2024/05/31/dufrango-kid.html
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