sexta-feira, 19 de julho de 2024

Crônica: “Dufrango Kid” ... e outros causos

“Dufrango Kid”

Juro que, de relance, na pressa do ônibus, a leitura que fiz da placa na parede da vendinha de galeto (18 reais a unidade do frango assado no espeto) remeteu ao seriado da TV estrelado por Charles Starrett, filme de faroeste que nós, meninos, nos anos 1960/70, dávamos o maior valor; cowboy mascarado tão admirado quanto o Zorro de espada. Achei o preço bom, até porque acompanhava vinagrete e farofa, e voltei à noite pra levar um "dufrango kid" pra janta. Quase um quilo, o bichão, bem passado.

Kid, o dono do estabelecimento, cara muito simpático, fã de Durango Kid, me explicou tudo, inclusive sobre a máscara preta no galeto da placa que anunciava o delicioso produto. "É pra ninguém descobrir se é frango ou se é franga o que eu tô vendendo!"

"Primeiro a erva, depois a espiga..."

A pressa é inimiga das criancinhas. Ou, como afirma o homem sábio, "a pressa é como se a Humanidade desejasse acelerar os acontecimentos num período de tempo muito curto". Dela, somos vítimas. Que o diga Canuto Júnior (Canutinho), primogênito do velho Zé Canuto, sempre protagonizando as inverossímeis desculpas cabeludas do pai. À ultima.

Na pressa de explicar-se ao chefe por que chegara atrasado ao trabalho, na sextante sexta-feira passada, o velho Zé Canuto atrapalhou-se todo, colocando o filhote em maus lençóis:

- Desculpe, Dr. Jandir, mas...

- Sei, Zé! Conheço as tuas! - chefe desconfiado.

- Dessa vez foi demais grave...

- Teu cachorro fugiu com o tronco da mangueira amarrado no pescoço!

- Dr. Jandir, hoje eu saí tão apressado de casa, mas tão apressado, que deixei o menino no fogo e o feijão chorando!!!

- Jura?!?

- Quero é cegar na hora da morte!!!

História de família

O xará Tarcísio (Saraiva de Oliveira), em 8 de dezembro de 2003, me mandou o interessante causo. "Espero que minha história seja levada a público por esta respeitável coluna". E será agora, 21 anos mais tarde, mas sempre atual.

"Morávamos no interior do Ceará, mais precisamente em Mombaça, distrito de Carnaúba. Éramos uma família constituída de cinco filhos: Tânia, Zezé, Tarcisio (eu), Paulo André e Osmar Júnior. Éramos absolutamente traquinos. Certo dia, nossa mãe, dona Jacira, resolveu nos levar a Fortaleza para conhecermos o mar. Fizemos uma viagem típica dos matutos. Minha mãe fez um bolo de batata, torrou uma galinha e a colocou com farinha dentro de uma lata de Neston.

Fizemos a maior bagunça nesta viagem. Ao chegarmos a Fortaleza, logo no dia seguinte, dona Jacira, juntamente com Celina, nossa babá, nos levaram à praia. Inicialmente, ficamos com medo das ondas, mas, de tanto observá-las, nos encorajamos e passamos a tomar banho e a dar cangapés. Nossa mãe, quando nos viu adaptados, ficou nos observando à distância.

Passados alguns instantes, um helicóptero da FAB passou num voo rasante. Nós, que nunca tínhamos visto algo parecido, saímos correndo em todas as direções. O Zezé, quando passou próximo à mamãe, por ela foi agarrado. O Paulo foi pego pela babá Celina. O Osmar Junior, quando já estava distante, foi pego por um soldado de polícia. Quanto a mim, ninguém conseguiu deter; Somente no dia seguinte fui encontrado na Rádio Uirapuru de Fortaleza"...

Fonte: O POVO, de 31/05/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

https://mais.opovo.com.br/colunistas/tarcisio-matos/2024/05/31/dufrango-kid.html


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