terça-feira, 2 de julho de 2024

UMA ECONOMISTA A SERVIÇO DAS PESSOAS

Por Gláucio Arrais (*)

A primeira palavra que vem à mente quando se pensa em Maria da Conceição Tavares é heterodoxia. Palavra feia nessa era de extremos. Economistas geralmente defendem a ortodoxia, tratando uma série de premissas supostamente liberais como consenso científico absoluto.

Maria da Conceição Tavares se orgulhava de sua heterodoxia. Bradava e justificava aos quatro ventos, cheia de vigor, suas convicções. Era de espécie em extinção: uma economista política, a verdadeira natureza da ciência econômica, segundo ela.

Aceitava a humanidade que existe na Economia. Sabia que o principal recurso para desenvolver um país são as pessoas. É por elas, com elas e para elas que a Economia existe.

Ela destacava como poucos o uso do saber econômico como instrumento político, de dominação, de tomada e conservação do poder. Mas também que, quando apropriado pelas pessoas, era caminho para reverter esses processos exploratórios e promover justiça. Uma economia que seja solidária e inclusiva, a serviço da gente. Democratizadora.

Corajosa, foi uma das raríssimas estudiosas da área que ousou pensar fora da caixa. O Brasil precisa saber e lembrar quem foi essa mulher que se fazia poderosa com sua retórica afiada e seu imponente cigarro entre os dedos. Ela sabia que não existe Economia apenas na abstração, na frieza e na exatidão da matemática e das finanças, isolada das ciências sociais, dos fazes e saberes da gente.

São as pessoas, no dia a dia, que produzem conhecimento, bens e serviços, que usam seus talentos e suas habilidades para inovar, criar aquilo que ainda não existe e mover adiante a tecnologia. Para desenvolver os lugares em que vivem. Que, trabalhando umas com as outras, fazem o mundo girar.

Mas o que Conceição realmente adorava era a arte de professar, o que fazia com maestria. Suas já famosas aulas viralizaram nas redes sociais e se tornaram memes entre os jovens.

O legado de Maria da Conceição Tavares é a mensagem sobre como economia é mais do que poupar e multiplicar dinheiro. Não é apenas sobre planilhas, gráficos, índices e balanços. Que é também sobre política e justiça social.

(*) Economista. Diretor executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico Local.

Fonte: O Povo, de 12/06/24. Opinião. p.16.

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