Por Gláucio Arrais (*)
A primeira
palavra que vem à mente quando se pensa em Maria da Conceição Tavares é
heterodoxia. Palavra feia nessa era de extremos. Economistas geralmente
defendem a ortodoxia, tratando uma série de premissas supostamente liberais
como consenso científico absoluto.
Maria da
Conceição Tavares se orgulhava de sua heterodoxia. Bradava e justificava aos
quatro ventos, cheia de vigor, suas convicções. Era de espécie em extinção: uma
economista política, a verdadeira natureza da ciência econômica, segundo
ela.
Aceitava a humanidade
que existe na Economia. Sabia que o principal recurso para desenvolver um
país são as pessoas. É por elas, com elas e para elas que a Economia existe.
Ela destacava
como poucos o uso do saber econômico como instrumento político, de dominação,
de tomada e conservação do poder. Mas também que, quando apropriado pelas
pessoas, era caminho para reverter esses processos exploratórios e promover
justiça. Uma economia que seja solidária e inclusiva, a serviço da gente.
Democratizadora.
Corajosa, foi uma
das raríssimas estudiosas da área que ousou pensar fora da caixa. O Brasil
precisa saber e lembrar quem foi essa mulher que se fazia poderosa com sua retórica
afiada e seu imponente cigarro entre os dedos. Ela sabia que não existe
Economia apenas na abstração, na frieza e na exatidão da matemática e das
finanças, isolada das ciências sociais, dos fazes e saberes da gente.
São as pessoas,
no dia a dia, que produzem conhecimento, bens e serviços, que usam seus
talentos e suas habilidades para inovar, criar aquilo que ainda não existe e
mover adiante a tecnologia. Para desenvolver os lugares em que vivem.
Que, trabalhando umas com as outras, fazem o mundo girar.
Mas o que
Conceição realmente adorava era a arte de professar, o que fazia com maestria.
Suas já famosas aulas viralizaram nas redes sociais e se tornaram memes
entre os jovens.
O legado de Maria
da Conceição Tavares é a mensagem sobre como economia é mais do que poupar e
multiplicar dinheiro. Não é apenas sobre planilhas, gráficos, índices e
balanços. Que é também sobre política e justiça social.
(*) Economista.
Diretor executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico Local.
Fonte: O Povo, de 12/06/24. Opinião. p.16.
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