Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Eis que no final de um
dia trabalhoso, ao chegar em casa, quase madrugando, ensaiei uma conversa sobre
a leitura e as querelas da atualidade.
Sob meia taça de vinho,
ao lado do meu amigo canino, "o chefe", pus-me a pensar alto. Falamos
sobre poder, sobre minha experiência no governo, enfim sobre o mundo. Algo não
tão romântico, como costumo ser, mas com um ar de realidade que chega a
incomodar, mais a mim que aos outros, com exceção da minha Rita, que se faz
cúmplice nas minhas viagens.
Relato minha preocupação
com a constatação da contradição entre governo e povo, o que gera conflitos,
estopins de revoltas, quando agudiza essa desconexão. Mesmo sabendo ser cediço
o conceito de que quem governa faz crer que os seus objetivos são os de quem é
governado, do povo.
Assistir a desconexão do
governo com a realidade chega a dar desespero.
Em 2018 foi publicado no
Depress Anxiety uma análise da prevalência de ansiedade em 24 países, com
prevalência de 5 a 25 % da população. Em publicação mais recente, já em 2024,
foram publicados dados onde estima-se que cerca de 40% da população sofrem de
distúrbios de ansiedade moderada a grave. E ainda, de 2017 a 2019 morreram mais
17 % dos americanos que os previstos. Essas ocorreram em pessoas mais jovens,
com menos de 60 anos, relacionadas às doenças psiquiátricas e ao uso de drogas.
No Ceará, bem como no
Brasil, os números não são tão precisos, mas a minha experiência profissional
mostra-me algo similar.
Enquanto isso, a
medicalização aumenta exponencialmente, gerando pessoas dóceis, incapazes de
demonstrar qualquer revolta, e evidentemente, retardando a tal mudança que
almejamos.
O mundo é digital e a
política analógica, ao menos para parte dos que nos representa. Não é de agora
que os poderosos tentam sufocar os costumes, os valores de uma comunidade, para
garantir o domínio absoluto.
Infelizmente, é como se
não bastasse a história. Como exemplo, em Antígona, personagem da mitologia de
Sófocles, vê-se a contradição entre a lei divina e a lei do estado. Na tragédia
o rei Creonte, proíbe Antígona de prestar homenagens fúnebres ao seu irmão
morto em batalha contra Tebas.
Ela contradiz as forças
do poder absoluto, - "O povo fala. Por mais que os tiranos apreciem um
povo mudo, o povo fala. Aos sussurros, a medo, na semiescuridão, mas
fala".
Enfim, merece ser rei
aquele que não somente busca e sabe aceitar uma verdade nova, mas que a aceita
sem hesitação.
Em contrário, trata-se
tão somente de um rei no deserto.
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/06/2024. Opinião. p.16.Refl
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