Por Heitor
Férrer (*)
Muitos lembram, outros
nem tanto, por conta dos idos dos anos, que tivemos um presidente da República,
"salvador da pátria", "caçador de marajá" que resolveu,
numa canetada, confiscar a poupança do povo brasileiro a "bem da economia".
Assim fez o famigerado Collor de Melo em 1990, sem qualquer resistência do
Congresso. Foi um golpe sem precedentes na história do Brasil, na economia
popular. Trauma profundo e inesquecível e, como não poderia deixar de ser,
redundou num tremendo fracasso.
Economia não se dá bem
com canetadas, não se submete a decretos.
Vejo agora esses
perrengues entre o presidente Lula e o presidente do Banco Central, autônomo
por garantia legal, não podendo o seu dirigente ser demitido por contrariar o
presidente da República. Não podemos tirar a razão do presidente Lula em querer
a taxa de juros mais baixa, por estimular investimentos, alavancar a economia,
gerar mais empregos; nem podemos tirar a razão do presidente do Banco Central,
que, se baixar os juros, corre o risco de estimular a inflação.
Estaria Campos Neto,
indicado por Bolsonaro, a serviço do bolsonarismo para dificultar o bom
desempenho do governo Lula? Vamos aos números. Nos dois primeiros anos do
governo Bolsonaro, os juros atingiram níveis baixíssimos, chegando a 2% em
2020. Já em 2021, com o fantasma da inflação, a taxa Selic começou a subir,
chegando a 13% em 2022 e atingindo 13,75% no final do governo Bolsonaro, bem
acima dos atuais 10,50.
Portanto, o afilhado de
Bolsonaro não segurou a taxa de juros nem no seu governo, adotando critérios
técnicos para aumentá-la e ainda mantê-la elevada, infelizmente necessário para
o controle da inflação, muito boa para banqueiros e especuladores, porém impeditiva
para investimentos como defende Lula. É o famoso remédio amargo. Não fosse o
Banco Central autônomo, o presidente teria demitido seu titular e colocado um
outro nome para, quem sabe, atender sua vontade, o que no momento, não seria
bom para a economia, por ser um artificio e não um resultado do mercado.
Como dinheiro emprestado
-amigos, amigos, negócios à parte- assim deva ser a atuação do Banco Central,
essencialmente técnica, mesmo contrariando as boas intenções do governo. No
caso concreto, inimigos, inimigos, negócios ainda mais à parte.
(*) Médico
e ex-Deputado estadual (Solidariedade).
Fonte:
Publicado In: O Povo, de 29/06/2024.
Opinião. p.21.
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