quinta-feira, 27 de junho de 2024

RISCOS GEOPOLÍTICOS PARA A INFLAÇÃO GLOBAL

Por Lauro Chaves Neto (*)

Os conflitos geopolíticos são uma das marcas da evolução histórica da sociedade, uma tragédia em termos humanos e sociais. As Guerras da Ucrânia e do Oriente Médio possuem potencial de produzir impactos profundos e difusos.

A elevação da inflação global, em termos econômicos, é um dos mais danosos dos impactos previstos. A chance de uma estabilidade inflacionária de volta aos níveis pré-pandemia é reduzida no cenário atual.

Quando as diferenças geopolíticas extrapolam o campo diplomático, dificultam ou danificam o uso das infraestruturas, desestruturam as cadeias de logística e suprimentos impactando em toda a cadeia de abastecimento de insumos, bens e serviços.

Rússia e Ucrânia são dois dos principais produtores de commodities do mundo e, desde o início da guerra entre eles, houve uma escalada no preço das mesmas, o que impactou tanto os exportadores como os importadores.

Se na pandemia foi aceso o sinal de alerta para os países não dependerem da importação de insumos e tecnologia para a saúde, os conflitos geopolíticos trouxeram reflexões no mesmo sentido para a segurança energética e alimentar.

As estratégias organizacionais passaram a focar muito mais na segurança e na resiliência das cadeias de suprimentos e logística do que a visão tradicional de eficiência e redução de custos, algo na mesma direção da abordagem sobre as cadeias de valor da economia da saúde pós pandemia.

Diante do exposto, existe uma crescente incerteza sobre o cenário geopolítico global e o acesso às cadeias globais de valor e logística, aos mercados financeiros internacionais e os seus impactos na política monetária.

Após recente política monetária, principalmente devido as restrições de oferta e as suas consequências inflacionárias, os bancos centrais vão encarar o desafio de retomar a estabilidade monetária, condição necessária, porém não suficiente, para o desenvolvimento econômico.

Em um contexto de políticas fiscais expansionistas, com déficit e endividamento públicos crescentes, existirá maios pressão sobre o patamar das taxas de juros e, provavelmente, um debate sobre a elevação das metas de inflação.

(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.

Fonte: O Povo, de 27/05/24. Opinião. p.18.

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