Por Márcia Alcântara Holanda (*)
Em 1950
nasceu Marcus Francisco, filho de seu Mário, escritor e jornalista autodidata e
dona Maria, exímia bordadeira. Nesse pequeno universo Marcus cresceu sob valores culturais singelos. Cedo revelou-se
desenhista, estilo bico de pena, ganhou prêmios como os dos Salões de Abril de
1969, 1970, 1980. Na música, em 1968, com Raimundo Fagner, conquistaram o
primeiro lugar do Primeiro Festival de Música Cearense com "Nada sou",
e gravaram "Luzia do Algodão", 1969, sob comando de Aderbal Freire
Junior.
Varou o
mundo: Fortaleza, Rio, Nova York, conforme "Olhar Balizador" de
Dodora Guimarães, em "A Aventura do Traço", exposição de 2008 no
CCBN. Passados 16 anos, ele chegou à Pinacoteca do Ceará, que vem lançando
fachos de luzes brilhantes sobre a vida e obra de artistas cearenses, ora, nos da década de
setenta, exaltando Leonilson e seus asseclas, como Marcus Francisco e outros.
Aos
três anos de idade Marcus travestiu-se de Nossa Senhora de Fátima, que à época visitava o Brasil.
Seguiu admirando-a. Considerava-a digna e pura. Quando a desenhou, usando
óculos escuros, perguntei-lhe sobre o porquê daquilo. Disse: "Queria tanto
que a minha Santa tivesse vez por outra um descanso da vista para as
destruições praticadas pelos humanos: das guerras aos crimes hediondos".
Queria a Santa livre das
desumanidades que
lhes eram aplicadas. Donald Spoto em: "Francisco de Assis um santo
relutante", apresenta provas de que a santidade leva a uma vida de restrições
sub-humanas, não aceitando a santidade penosa. Queria liberdade para praticar
apenas o amor entre os seres.
Foi o
espaço cultural e as obras artísticas cearenses da década de 1970, que o
vereador Jorge Pinheiro disseminou aos brados, no Youtube, um julgo
inconsistente. Classificou a santa, desenhada por Marcus, como vilipêndio à fé cristã, e, aos gritos, denigre a todos, dizendo ser aquela
exposição "um carnaval no inferno". O julgamento perverso do vereador
e seus devotos, não obscurece a riqueza cultural e artística que é a Pinacoteca do Ceará. Não
tenhamos medo de gritos, mas celebremos a diversidade de expressões, que nos
faz compreender o mundo e nos desafiam a pensar além das visões estreitas.
(*) Médica pneumologista; coordenadora do
Pulmocenter; membro honorável da Academia Cearense
de Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/05/2024. Opinião. p. 20.
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