Por Tales de Sá
Cavalcante (*)
Todos
daquela turma de amigos trabalhavam excessivamente. De segunda a quinta, o
almoço era um pequeno intervalo para, após o trabalho da manhã, planejarem o
que fariam à tarde.
Na
sexta-feira, almoçavam juntos. Era "festa". Se fossem íntimos do
célebre Vinicius de Moraes, talvez pedissem ao Poetinha que no
poema "O dia da criação", num jeitinho brasileiro e com as devidas
vênias religiosas, a exaltação se desse à sexta, e não ao sábado. Mas o novo
coronavírus tudo mudou.
Na pandemia,
o brilho do melhor dia se foi. Todos sentiam falta dos alegres almoços, quando
voltavam à adolescência, às vezes até à infância. E aquela sexta foi a pior.
Nessa data, o irmão de um deles e cunhado de outro, após longo período
entubado, perdeu para a Covid. E veio o pesar.
Poucos
vencem as perdas como o notável filósofo Raimundo de Farias Brito,
que, em texto memorável, apontou: "Tenho (…), nos momentos difíceis, uma
resistência extraordinária. Neste ponto sinto que não sou comum. Parece-me até
que a coragem cresce em mim quando as dificuldades aumentam. E quando o perigo
chega ao último limite, já não me abala. Torno-me assim insensível a toda
desgraça, revelando-se-me, em certas ocasiões, no fundo do ser, energias que me
surpreendem."
Epicuro,
ilustre filósofo do Período Helenístico, também nos conforta. Segundo o
fundador do Epicurismo, cujo lema é "viva o instante",
"a morte é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e
quando existe a morte, não existimos mais" e "as pessoas felizes
lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro
sem medo".
Forte
amizade dificulta a aceitação da dor maior em dois amigos e uma amiga. Isso nos
leva à pretensão de um ideal: conviver ao máximo com a família e os outros
afeiçoados, aproveitar, moderadamente, tudo o que essa maravilhosa festa
chamada vida nos oferece, procurar, nos limites, usufruir dos
possíveis prazeres, comemorar os grandes momentos e respeitar os direitos de
outrem, a dar a César o que é de César, porque, com exemplos
que possam ser seguidos, deixa-se um legado, e a imortalidade é alcançada.
(*) Reitor do FB
UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense
de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/5/21. Opinião, p.22.
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