Por Alfredo
Guarischi, médico
“Está tudo bem com meu filho?”. Essa pergunta foi
que Virgina Apgar (1909-1974) buscou responder à todas as mães. É também o
título de seu livro publicado em 1972. Apgar quando se formou em medicina, na
renomada faculdade de Columbia, Nova York, em quarto lugar numa turma de 81
homens e 9 mulheres, com apenas 24 anos de idade, já tinha o diploma de
Zoologia. Enfrentou dificuldades financeiras, chegando a ser catadora de gatos.
Queria ser cirurgiã, mas foi “convidada” a optar
pela anestesia. Na época, apenas 4% dos médicos americanos eram mulheres e 11%
delas administravam anestesia, não considerada por alguns uma especialidade
médica. Mas Apgar era determinada e, aos 28 anos de idade, se tornou a primeira
professora de anestesia e chefe de serviço do Columbia Presbyterian Hospital.
Na época não se tinha uma forma uniforme de
descrever os problemas que ocorriam com os recém-nascidos, o que levou Apgar a
estudar o desfecho de milhares partos, naturais ou cesariana. Classificou as
condições clínicas dessas crianças pela Atividade (movimentação dos membros),
Pulsação (coração forte), Gesticulação (reflexos ao estímulo), Aparência
(rosada) e Respiração (choro) com uma pontuação de 0, 1 ou 2. Os bebês cuja
soma dessas cinco condições era abaixo de 3 tinham problemas graves, e os com
escore abaixo de 7 requeriam cuidados especiais.
Sua proposta pioneira foi publicada em 1953, sendo
adotada em todo o mundo, contribuindo para criar rotinas de atendimento aos
pequeninos. Virginia adorou o acrônimo “APGAR” (Activity, Pulse, Grimace,
Appearance, Respiration) sugerido em 1961 por um aluno e que foi traduzido em
diversas línguas. Muitos acabaram se esquecendo que Apgar é o sobrenome de
Virginia, uma mulher que tocava violino e construiu seu próprio instrumento.
Participou de três pequenas orquestras, incluindo a “Sociedade Acústica Catgut”
– em homenagem ao fio usado em cirurgia. Cuidava de um orquidário, gostava de
beisebol, pescar, colecionar selos e ter aulas de pilotagem. Fez mestrado em
saúde pública e posteriormente foi professora de pediatria e genética. Apgar
não cozinhava bem e dizia que não se casou porque não encontrara um homem que
soubesse cozinhar melhor que ela.
A partir da década de 1980, vários estudos afirmaram
que seu escore era falho em prever o futuro completo das crianças e que deveria
ser substituído por testes mais sofisticados e custosos. A vida seguiu e
recentes análises de milhões de recém-nascidos, comparando a proposta de Apgar
com testes invasivos, confirmam a validade de seu método simples de avaliar o
risco imediato de recém-nascidos idealizado há 65 anos por essa mulher
fantástica.
Fonte: Publicado no O Globo – Sociedade – 1/05/2018.
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