Por Sofia
Lerche Vieira (*)
A
pandemia tem suscitado um debate fecundo sobre o presente e o futuro da
educação. Em oportunidades anteriores nos detivemos sobre o tema,
enfatizando a urgência de conceber e implementar políticas para fazer face aos
abismos provocados pela crise sanitária, de modo especial junto àqueles que
mais precisam da escola - as camadas vulneráveis da sociedade brasileira.
Tais
preocupações encontram respaldo em pesquisas recentes, que destacam o
aprofundamento das desigualdades como um dos maiores problemas
a enfrentar, com potencial de perdas econômicas irrecuperáveis.
Segundo
estudo do Banco Mundial (mar/2021), com foco na educação na
América Latina e no Caribe, "simulações recentes sugerem que a pobreza da
aprendizagem pode crescer em mais de 20%, o que equivale a um aumento de cerca
de 7,6 milhões de pobres de aprendizagem".
Além
disso, "mais de dois em cada três estudantes no primeiro ano do ensino
médio ou nos últimos anos do ensino fundamental não serão capazes de entender
um texto de tamanho moderado".
Assim,
"os prejuízos na aprendizagem podem traduzir-se em um custo econômico
agregado de 1,7 trilhão de dólares, equivalente à 10% do total dos ganhos na
linha de base".
Na
mesma direção, estudo da Secretaria de Política Econômica do Ministério da
Economia (mar./2021) destaca que os custos socioeconômicos decorrentes
do fechamento das escolas serão extremamente elevados.
Do
mesmo modo, os "choques negativos sobre a educação" terão significativos
"rebatimentos sobre o bem-estar social".
Enquanto
esses e outros fóruns de debate reverberam os efeitos e desafios da
crise, não tem sido possível identificar um protagonismo do Ministério da
Educação nesta matéria.
Ao
abdicar de seu papel na coordenação da política nacional de
educação o governo federal relegou aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios esta tarefa.
E
como não existe vácuo político que não seja ocupado, estes e
outros atores começam a imprimir um desenho novo no federalismo brasileiro, com
implicações sobre as políticas a desenvolver no contexto da pós-pandemia. Tema
para uma próxima reflexão.
(*)
Professora do Programa de Pós-Graduação
em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/04/21. Opinião, p.22.
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