Por Marcus
Vinicius Amorim de Oliveira (*)
Cooperar
ou morrer. Ulrich Beck, muito conhecido pela teoria do risco nas
sociedades pós-industriais, colocou desse modo, sem tirar nem pôr, o desafio
dos Estados-nações diante da mudança climática.
Ele
defende o reconhecimento do fato de que o princípio da soberania,
independência e autonomia nacionais é um obstáculo à sobrevivência da
humanidade e que a "declaração de independência" precisa ser trocada
pela "declaração de interdependência".
O
texto foi publicado em 2016, pouco depois de sua prematura morte, e nele se
toma como exemplo outro risco global, para o qual Harari acredita que a
pandemia de Covid-19 servirá como teste e que nos aponta a
importância das escolhas políticas.
De
fato, a capacidade de cooperação da humanidade está sendo posta à prova. Temos
visto muitos acertos mas também outros tantos erros nas escolhas feitas.
É
que, apesar dos inegáveis avanços do conhecimento científico,
ninguém tem a receita infalível para lidar com a pandemia. Os vírus, afinal,
sofrem mutações e a ciência mesma, que tem se mostrado ainda mais importante, é
feita de tentativa e erro.
Esta
pandemia é um risco global que exige coordenação e cooperação
no mesmo nível, uma situação talvez inédita no mundo.
Dá
para perceber claramente que há aqueles que erram tentando acertar e aqueles
que erram porque querem mesmo errar, visando outros interesses, dos
geopolíticos até os mais mesquinhos.
E
especialmente por aqui, como anda faltando racionalidade comunicativa, o que
observamos é o reavivamento de uma polarização ideológica absurda
- logo, o inverso daquilo de que mais precisamos - de tal maneira que nenhum
dos lados que ora se antagonizam alcança o que pretende.
No
Brasil, quem almeja confinar as pessoas para conter a infecção não recebe
suficiente adesão delas; e quem quer deixar rolar para a economia não parar de
girar tampouco consegue evitar sua desaceleração.
Faltam-nos liderança
e confiança uns nos outros para superar essa falsa dicotomia. Passou
da hora do bom senso e do diálogo voltarem à cena política. Enquanto isso, à
míngua de cooperação, seguimos todos morrendo.
(*)
Promotor de justiça.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/04/21. Opinião, p.20.
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