Por Marcelo Affonso (*)
Equipes
exaustas, psicológica e fisicamente afetadas. Conviver diariamente, de forma
ininterrupta, com o crescente número de casos de Covid-19 tornou a vida dos
profissionais de Saúde do Ceará ainda mais difícil. Diante dessa ameaça mortal
e nebulosa, encontram-se médicos dedicados e corajosos, mas pouco valorizados.
Presenciar o sofrimento humano e a morte é tarefa para fortes; mas, mesmo os
fortes desanimam. Superlotação de unidades, falta de recursos e insumos básicos
para a manutenção da vida e a omissão das autoridades competentes são aliados do
vírus mortal.
Recentemente, publicações na imprensa expõem a falta
de oxigênio, especialmente nos municípios menores do Ceará. A escassez acontece
após denúncias de empresas que disponibilizavam o oxigênio não hospitalar para
uso humano. O que causa questionamento pela sociedade é a falta de fiscalização
de contratos pelo poder público nesses supostos crimes cometidos. Sofro em
pensar a agonia das equipes na luta por salvar pessoas que, na verdade,
recebiam oxigênio usado para soldar metais.
Cada centavo gasto em corrupção e desvio de dinheiro
público fortalece a COVID-19. As inúmeras denúncias de má utilização dos
recursos públicos provocam no cidadão comum a sensação de impunidade.
Equipamentos públicos como o Hospital Regional do Vale do Jaguaribe, com início
de construção em 2017, investimento inicial de cerca de 120 milhões de reais e
até o momento não disponibilizado à população, poderiam estar atendendo
milhares de pessoas nas localidades mais carentes do Estado. Outro exemplo é o
do Hospital Regional de Itapipoca, com cerca de 20 milhões de investimento e
concluído desde 2014, a unidade encontra-se indisponível à população.
Mas a desvalorização também é percebida na relação
entre profissionais médicos e operadoras de saúde privadas. Atualmente, a maioria
das operadoras de saúde no Ceará utilizam tabelas de remuneração médicas
defasadas. Resta apelar à sociedade e ao poder público que compreendam os
riscos à vida derivados de uma gestão que não valoriza o profissional de saúde.
Escutem nossos médicos!
(*) Médico ortopedista.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/4/21. Opinião, p.20.
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