quarta-feira, 16 de junho de 2021

O QUE NÃO DIZ A CARTA DOS ECONOMISTAS E EMPRESÁRIOS

Por Fernando José Pires de Sousa (*)

O desmonte do Estado brasileiro sempre foi defendido pelos economistas liberais e empresários, porém é sintomático que, agora, depois de tantas mortes e do colapso total dos serviços privados de saúde, como os hospitais que os acolhem, eles se pronunciem a favor de um Estado "forte" para promover lockdown e vacinação em massa.

Ora, o medo de morrerem os aterroriza, agravado pela dificuldade de não se safarem usando seus poderes e riquezas para fugir e se vacinar às escondidas nos países ricos ou mesmo comprarem vacinas para si e seus familiares.

Até o momento eles têm aplaudido as reformas e medidas adotadas por este governo irresponsável, as quais constituem verdadeiros arsenais de eliminação de direitos e aprofundamento de desigualdades sociais.

O receituário de "maldades" atinge o papel regulador e protetor do Estado ao preconizar redução brusca e abrangente de despesas públicas e de investimentos em áreas cruciais de proteção social e trabalhista.

No conjunto, suas políticas neoliberais, como o teto dos gastos, reformas da previdência, trabalhista, administrativa e tributária; avanço do agronegócio na Amazônia e até no Nordeste, afetam a vida de trabalhadores, servidores públicos, indígenas, quilombolas e de todos que dependem dos serviços públicos.

Atingem emprego, salários e renda; saúde e educação; programas de transferência de renda; benefícios sociais em geral; segurança, moradia, meio ambiente, etc. Mas, desde sempre, eles jamais se preocuparam com quem vive da proteção do Estado, como o SUS e a educação, que amparam nada menos que 75% e 88% dos brasileiros, respectivamente.

Desconhecem até que sem o SUS estaríamos num caos total, com o sacrifício bem maior de vidas do que às mais de 368 mil, que já foram. Afinal, não sabem o que significa solidariedade, a não ser entre eles mesmos.

Assim, mesmo que retornemos à mesmice da vida sob o domínio da avidez pelo lucro, estaremos somente sujeitos à nova catástrofe, com o aumento da precariedade social, destruição da natureza e até o surgimento de outro vírus mais contagioso e letal. 

(*) Professor da Universidade Federal do Ceará e coordenador do Observatório de Políticas Públicas.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/4/21. Opinião, p.22.

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