Por Fernando José
Pires de Sousa (*)
O
desmonte do Estado brasileiro sempre foi defendido pelos economistas liberais e
empresários, porém é sintomático que, agora, depois de tantas mortes e do
colapso total dos serviços privados de saúde, como os hospitais que os acolhem,
eles se pronunciem a favor de um Estado "forte" para
promover lockdown e vacinação em massa.
Ora,
o medo de morrerem os aterroriza, agravado pela dificuldade de não se safarem
usando seus poderes e riquezas para fugir e se vacinar às escondidas nos
países ricos ou mesmo comprarem vacinas para si e seus familiares.
Até
o momento eles têm aplaudido as reformas e medidas adotadas por este governo
irresponsável, as quais constituem verdadeiros arsenais de eliminação de
direitos e aprofundamento de desigualdades sociais.
O
receituário de "maldades" atinge o papel regulador e protetor do
Estado ao preconizar redução brusca e abrangente de despesas públicas e
de investimentos em áreas cruciais de proteção social e trabalhista.
No
conjunto, suas políticas neoliberais, como o teto dos gastos,
reformas da previdência, trabalhista, administrativa e tributária; avanço do
agronegócio na Amazônia e até no Nordeste, afetam a vida de trabalhadores,
servidores públicos, indígenas, quilombolas e de todos que dependem dos
serviços públicos.
Atingem
emprego, salários e renda; saúde e educação; programas de transferência
de renda; benefícios sociais em geral; segurança, moradia, meio ambiente,
etc. Mas, desde sempre, eles jamais se preocuparam com quem vive da proteção do
Estado, como o SUS e a educação, que amparam nada menos que 75% e 88% dos
brasileiros, respectivamente.
Desconhecem
até que sem o SUS estaríamos num caos total, com o sacrifício
bem maior de vidas do que às mais de 368 mil, que já foram. Afinal, não sabem o
que significa solidariedade, a não ser entre eles mesmos.
Assim,
mesmo que retornemos à mesmice da vida sob o domínio da avidez pelo lucro,
estaremos somente sujeitos à nova catástrofe, com o aumento da precariedade
social, destruição da natureza e até o surgimento de outro vírus mais
contagioso e letal.
(*) Professor da Universidade Federal do Ceará e coordenador
do Observatório de Políticas Públicas.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/4/21. Opinião, p.22.
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