Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
Há quatro anos, estávamos em plena pandemia. A Igreja mostrava
seu rosto divino e misericordioso na modalidade "Igreja doméstica". O
deslocamento do templo para a casa representou uma fantástica oportunidade de
reencontrar sua fonte mais pura e suas origens mais genuínas.
Antes de ser templo, a Igreja foi casa. A casa e a família
sempre foram igrejas primeiras, onde se primeiro recebia o leite e a fé. A pandemia
do coronavírus nos trouxe de volta para casa, espaço onde a família se
reúne, conversa, briga, chora, pede perdão, se arrepende, ri, vê televisão,
entre inúmeras outras vivências, e claro, celebra da fé - essa é nossa Igreja
doméstica.
Fazendo uma retrospectiva dos últimos quatro anos, penso na
quantidade de benefícios que recebemos. Há quanto tempo não rezávamos juntos em
família? Cada um na sua casa e Deus na casa de todos. Encontramos novos
caminhos para mostrar a Igreja viva, mais presente em novas formas na missão de
servir e acompanhar espiritualmente seus filhos em momentos difíceis.
Considero que, apesar das dores e tristezas que vivemos, a fé da
Igreja doméstica nunca esteve tão viva e tão forte. O amor de Deus nos
unia, consolava e amadurecia. Deus estava ali, o tempo todo. Eu vivi um momento
totalmente novo e inusitado, a partir das orientações da Arquidiocese,
começamos a refletir sobre como transmitir a eucarística pelas redes sociais.
Escrevi, publiquei um livro, orei, celebrei (inclusive, inúmeras missas de
sétimo dia online), dei unção nos leitos de morte e experimentei as pegadas da
Misericórdia neste tempo.
Tínhamos a preocupação de não deixar o povo sem o consolo da Palavra
de Deus. Há uma frase do poeta português Fernando Pessoa que sempre me
inspira: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce". Ao sintonizar
o nosso sonho com o desejo de Deus, o milagre acontece. Começamos a pedir a
Deus que se fosse para a maior glória Dele e o bem das famílias, que Ele fosse
iluminando e abrindo portas.
Assim, Deus fez: conduziu e abriu muitas portas. De
repente, surgiu a oportunidade de uma Rádio FM, um canal de TV e o Instagram
fazerem a transmissão, em plena pandemia. Confesso que se alguém cogitasse
isso, nesse contexto, não acreditaria. Se: "O homem propõe e Deus
dispõe".
Assim tem sido. Já seguimos há quatro anos, com as transmissões
online. Uma experiência de consolação em proporcionar em tempos escuros
momentos de alegria, fé, ânimo e esperança aos outros.
(*) Sacerdote
jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de
Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.
Fonte: O Povo, de 27/07/2024.
Opinião. p.18.
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