Cearense foi abduzido e voltou
abestadim pra casa!
Não
cogito de desconfiar do ocorrido, foi vogando deveras. E contado logo por quem?
Pelo Cléber Filho, amigo do Quixadá. Que inclusive entrevistou a figura
excêntrica do abduzido em tela, conhecido por Mané Cocão. Sim, Mané foi raptado
no terreiro de casa na data exata em que comemorava aniversário, 20 de janeiro,
e devolveram ele na quitinete da ex-sogra. Coincidentemente, 20/1 é o Dia do ET
na mineira Varginha, efeméride que marca o suposto avistamento do
extraterrestre que ganhou repercussão mundial. Mané:
-
Dois bichão da cabeçona me agarraram, rebolaram numa espaçonave do tamanho do
Estádio Abilhão, dentro dum surrão, e riscaram no rumo da venta!
-
Pra onde levaram o senhor? - indaga Cléber.
-
Devia ser pro sol. Ô quentura monstra lá dentro!
-
Eles falaram alguma coisa?
-
Sim! Era um bodejado medonho! E enrolado! Disseram não sei que, não sei o que
mais lá e empurraram o pau a chupar manga!
-
ET chupando manga?
-
E era a pura coité! Fiquei com água na boca...
A
cisma de Cléber fazia sentido. Sabia que os abduzidos são devolvidos à terra
"ocasionalmente em um local diferente de onde foram supostamente levados
com lesões ou roupas desgrenhadas". Ali foi um pouco diverso.
-
Nem um sabacu deram no senhor? - retoma o prezado quixadaense.
-
Conversa! Ainda pediram meu PIX e me chamaram de 'gente que Deus vigia'!
-
Depois da experiência, como o senhor está, seu Cocão?
-
Abestadim do juízo!!!
De graça, tanto come como
"estrói"
"Três
coisas na vida nunca voltam - a flecha lançada, a palavra pronunciada e a
oportunidade perdida". Refletindo sobre o bodejado, lembrei-me do amigo e
vizinho Riba, da Vila dos Industriários. De flecha ele não entendia, pelo menos
que eu soubesse, em 40 anos de amizade, tampouco da palavra - servente de
pedreiro de gabarito, caladão. Mas, de oportunidade, ah! Taí o Riba - potência
que parte pra cima e... ande, tonha!
Havia
um supermercado famoso perto de casa e quase diariamente lá ele ia merendar,
desjejum feito não no restaurante do estabelecimento, pois inexistia isso
então. Todos se invocavam com o Riba no Mercantil São José, lanchando, algo
improvável para um humilde trabalhador do reboco autônomo. Mas ele merendava.
Como? Descobri quando lá estive com mamãe pra comprar sapólio.
Riba
pegava o carrinho de compras, ia enchendo de itens e circulando pelas seções,
não com o objetivo de levar pra casa o que fosse, mas tão somente encontrar
alguma promotora de degustação. Com uma, pegava copinho de café, com outra
aceitava biscoitos. Mais adiante, traçava queijo, bebia suco, experimentava
torrada, canjica, pastel, pão e salame. E senão tiver o cardápio todo por aqui?
"Vou andando até Antônio Bezerra e completo o tanque lá". Riba
engordou.
Em
tempo: quando ia ao antigo Acalanto, sentava-se e pedia um galeto caprichado.
"Mas só me traga daqui a 30 minutos, garçom!" A estratégia? Enquanto
aguardava o pedido, comia 10 terrinas de farofa com o vinagrete, oferta da
casa, derramando na "comida de enganação" lata de azeite de oliva.
Farto de burundanga, levantava-se com ar de quem não podia mais esperar o
pedido e disparava, para todos escutarem:
-
Demorou demais, dotô! Quero mais não! Vou no concorrente!
E
ia, comer mais de graça. Grande Riba!
Fonte: O POVO, de 14/06/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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