Por Pedro Jorge Ramos Vianna (*)
No dia 23 de
julho, o professor Raimundo Francisco Padilha Sampaio lançou seu livro de
memórias. Sem dúvida este é um livro para ser lido e relido pois as memórias
deste importante economista contarão muito do que foi o processo de
desenvolvimento do estado do Ceará e da criação do mercado bursátil de
Fortaleza.
A minha ligação
com o professor Padilha remonta a 1962, quando ele foi meu professor na cadeira
de Introdução à Economia, na Faculdade de Economia da UFC.
Quero relembrar dois
fatos importantes dessa minha relação com o professor Padilha. A primeira diz
respeito ao meu amor pelos livros. Ele indicou dois livros para sua cadeira. Eu
comprei os dois e como eram brochuras mandei encapá-los. Ele ficou admirado com
este meu ato. Mas o que ele não sabe é que aí nasceu minha dedicação ao estudo
da ciência econômica e a minha "mania" de comprar livros.
A segunda
influência sobre o hoje "acadêmico" foi o seu modo de pensar a
ciência econômica de maneira muito peculiar e muito diferente da análise ainda
hoje em voga: sempre pensar nos efeitos sobre o sistema econômico quando há
alguma modificação em uma variável ou parâmetro desse sistema, de maneira
uniforme, direta.
Para ele, o "não
necessariamente", devia sempre ser levado em consideração.
Vou aqui usar um
exemplo. Todos conhecemos a querela Lula da Silva versus Roberto Campos. Ou
"taxa de juros versus inflação" ou "taxa de juros versus
investimento". Para o sr. Campos a taxa de juros é o principal parâmetro
para combater a inflação. Para o senhor Lula, a taxa de juros é o principal
parâmetro para influenciar o investimento. Aqui o "não
necessariamente" é de extrema importância para a análise correta do
problema.
Tomar a taxa de
juros como parâmetro fundamental para combater a inflação é admitir que a
inflação brasileira é "inflação de demanda". Mas isto "não
necessariamente" é verdade. Todos sabemos da ineficiência da indústria
nacional e, também, da pressão do comércio internacional sobre as
"commodities" agropecuárias. Os dois têm muita importância para o processo
inflacionário brasileiro. Portanto, não é aumentando a taxa de juros e, assim,
diminuindo o consumo, que se debelará o processo inflacionário.
Por outro lado,
não se pode pensar que o investimento é função apenas da taxa de juros. Mesmo
nos investimentos em bens físicos outras variáveis são bastante importantes,
tais como: a taxa de retorno, a taxa de risco, o tempo de maturação do
investimento, o "preço sombra" para a taxa de retorno. E, no caso do
Brasil, país que necessita dos investimentos estrangeiros, o "country risk".
Assim, estudemos o
"não necessariamente"!
(*)
Economista e professor titular aposentado da UFC,
Fonte: O Povo, de 4/08/24. Opinião. p.18.
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