quarta-feira, 28 de agosto de 2024

O mestre Raimundo Francisco Padilha Sampaio

Por Pedro Jorge Ramos Vianna (*)

No dia 23 de julho, o professor Raimundo Francisco Padilha Sampaio lançou seu livro de memórias. Sem dúvida este é um livro para ser lido e relido pois as memórias deste importante economista contarão muito do que foi o processo de desenvolvimento do estado do Ceará e da criação do mercado bursátil de Fortaleza.

A minha ligação com o professor Padilha remonta a 1962, quando ele foi meu professor na cadeira de Introdução à Economia, na Faculdade de Economia da UFC.

Quero relembrar dois fatos importantes dessa minha relação com o professor Padilha. A primeira diz respeito ao meu amor pelos livros. Ele indicou dois livros para sua cadeira. Eu comprei os dois e como eram brochuras mandei encapá-los. Ele ficou admirado com este meu ato. Mas o que ele não sabe é que aí nasceu minha dedicação ao estudo da ciência econômica e a minha "mania" de comprar livros.

A segunda influência sobre o hoje "acadêmico" foi o seu modo de pensar a ciência econômica de maneira muito peculiar e muito diferente da análise ainda hoje em voga: sempre pensar nos efeitos sobre o sistema econômico quando há alguma modificação em uma variável ou parâmetro desse sistema, de maneira uniforme, direta.

Para ele, o "não necessariamente", devia sempre ser levado em consideração.

Vou aqui usar um exemplo. Todos conhecemos a querela Lula da Silva versus Roberto Campos. Ou "taxa de juros versus inflação" ou "taxa de juros versus investimento". Para o sr. Campos a taxa de juros é o principal parâmetro para combater a inflação. Para o senhor Lula, a taxa de juros é o principal parâmetro para influenciar o investimento. Aqui o "não necessariamente" é de extrema importância para a análise correta do problema.

Tomar a taxa de juros como parâmetro fundamental para combater a inflação é admitir que a inflação brasileira é "inflação de demanda". Mas isto "não necessariamente" é verdade. Todos sabemos da ineficiência da indústria nacional e, também, da pressão do comércio internacional sobre as "commodities" agropecuárias. Os dois têm muita importância para o processo inflacionário brasileiro. Portanto, não é aumentando a taxa de juros e, assim, diminuindo o consumo, que se debelará o processo inflacionário.

Por outro lado, não se pode pensar que o investimento é função apenas da taxa de juros. Mesmo nos investimentos em bens físicos outras variáveis são bastante importantes, tais como: a taxa de retorno, a taxa de risco, o tempo de maturação do investimento, o "preço sombra" para a taxa de retorno. E, no caso do Brasil, país que necessita dos investimentos estrangeiros, o "country risk".

Assim, estudemos o "não necessariamente"!

(*) Economista e professor titular aposentado da UFC,

Fonte: O Povo, de 4/08/24. Opinião. p.18.

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