domingo, 11 de agosto de 2024

130 ANOS DA FUNDAÇÃO DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS

A Academia Cearense de Letras é a mais antiga das instituições do gênero que existem no Brasil. Quando surgiu, em 1894, O POVO ainda nem existia, situação compensada na época do seu centenário em 1994, pelo generoso e merecido espaço que ocuparia nas páginas do jornal.

* desde 1928: As notícias reproduzidas nesta seção obedecem à grafia da época em que foram publicadas.

11 de agosto de 1994

Centenário

A Academia Cearense de Letras, a primeira a ser criada no Brasil, está completando 100 anos. Dentre as comemorações, das quais o ponto alto é a posse da escritora Rachel de Queiroz, consta também a formação de uma pinacoteca com trabalhos recém-doados por 19 artistas plásticos cearenses. Roberto Galvão, José Mesquita, Floriano Teixeira, Aldemir Martins, Carlos Costa, Áscal, Patrícia Alkary, Eduardo Frota, Eduardo Eloy, Sebastião de Paula, Marcus Jussier, Pedro Eymar, Gilberto Cardoso, Marcio Ary, Herbert Rolim, Heloysa Juaçaba, Helio Rola, Sérgio Lima e José Guedes.

15 de agosto de 1994

ACL é a 1ª do País

Em 15 de agosto de 1894, Guilherme Studart (Barão de Studart) fundou a Academia Cearense de Letras, em sessão no salão nobre da Fênix Caixeiral, à época funcionando nos altos do prédio da esquina da rua Floriano Peixoto com São Paulo. Coordenada inicialmente por uma diretoria provisória, pouco tempo depois foi eleita a definitiva. De Tomás Pompeu a Artur Eduardo Benevides a entidade, que cultiva e desenvolve as letras no Ceará, teve 12 presidentes.

Segundo o historiador Raimundo Girão, em livro publicado, a ACL ostenta três título de glória. Foi representada, em 1897, na inauguração da estátua de José de Alencar, na capital da República, por Machado de Assis. Cabe-lhe a primazia de haver pleiteado a criação da Faculdade de Direito, através de Farias Brito e, por realizar duas sessões (17 e 19 de agosto de 1922) em uma casa de Governo, o Palácio da Luz. Hoje atual sede.

A época da fundação, se chamava Academia Cearense. Por sugestão de Leonardo Mota fundiu-se com a Academia de Letras do Ceará, ganhando a denominação Academia Cearense de Letras, em 1951. Antes da sua primeira sede própria realizava sessões na Fenix Caixeiral, Clube Euterpe (no Instituto do Ceará), na residência de Walter Pompeu, Clube Iracema, Instituto Pessoa, casa de Dolor Barreira e na de Tomás Pompeu. De lá se transferiu para a Palácio do Progresso, depois ocupou o Palácio Senador Alencar.

Homenagem

José Bonifácio Câmara, cearense do Rio, que veio para o centenário da ACL traz a informação que o evento merecerá homenagem da Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes do Rio de Janeiro e da Casa do Ceará, sessão da qual ele será o orador oficial.

Efervescência cultural - Editorial

Fortaleza viveu, ontem, três eventos marcantes para a vida cultural do Estado: a abertura da exposição "Bienal Brasil Século XX", a posse da escritora Rachel de Queiroz, na Academia Cearense de Letras, e o Centenário da própria ACL.

A Capital cearense foi escolhida como uma das únicas cidades brasileiras - as outras são Porto Alegre e Rio de Janeiro - a ter o privilégio de expor uma seleção do mais importante painel de artes plásticas realizado no Brasil, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A "Bienal Brasil Século XX" desperta grande interesse nos meios culturais internacionais e será apresentada no Exterior, depois de cumprir o compromisso assumido com essas três capitais brasileiras.

Quanto à posse de Rachel de Queiroz, na Academia Cearense de Letras, foi outro evento bastante concorrido como tributo a uma das filhas mais ilustres que o Ceará partilha com o Brasil. Membro destacado da Academia Brasileira de Letras a escritora é uma das expressões mais genuínas da inteligência nordestina, sem cuja contribuição a literatura nacional deixaria de ter recebido o "sal da terra", mantenedor de uma identidade rica e complexa. Em pleno vigor de sua atividade criativa Rachel de Queiroz é um grande caudal que, a exemplo do Nilo, fertiliza com sua placidez e opulência humífera a literatura nacional. Escolhemos a data mais significativa de nossa maior instituição cultural - o Centenário da ACL - para externar -lhe o carinho, o orgulho e o reconhecimento do povo cearense por sua fidelidade às raízes culturais e afetivas.

Por termos raízes é que foi possível celebrar, ontem, um século de existência da Academia Cearense de Letras, a instituição mais antiga do gênero, no Brasil. O pioneirismo representado por aquele ato de 15 de agosto de 1894, através das mãos do Barão de Studart, foi mais uma sinalização do quanto o Ceará conseguia desenvolver uma capacidade prospectiva, antenando-se com as aspirações - muitas vezes, embrionárias - da alma nacional, como já tinha sido provado no episódio pioneiro da libertação dos escravos.

A ACL, ao longo de um século, foi-se firmando como um centro aglutinador da identidade cultural cearense, acumulando um importante lastro de contribuições ao patrimônio literário nacional. Essa participação cearense antecede a própria ACL, com José de Alencar - criador efetivo do romance nacional - e, depois, com Rodolfo Teófilo, Franklin Távora, Rachel de Queiroz, José Albano, Artur Eduardo Benevides, Moreira Campos e tantos outros que testemunham o gênio cearense.

Academia faz 100 anos e recebe Rachel em festa

"Não é a Academia que homenageia Raquel, mas é Rachel quem homenageia a Academia ao ingressar nas suas fileiras", disse o Presidente da Academia Cearense de Letras, Artur Eduardo Benevides, ao saudar, em discurso, a posse da escritora Rachel de Queiroz na cadeira de número 32, ontem à noite. A solenidade, que contou com a presença do governador Ciro Gomes, do Presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Josué Montello, e de acadêmicos de vários estados, também comemorou o centenário da ACL, a mais antiga de todo o País e que teve suas instalações reformadas.

Rachel de Queiroz foi introduzida no auditório Ciro Gomes por um grupo de imortais cearenses. Logo que chegou ao recinto, foi empossada por Artur Eduardo Benevides na cadeira ocupada até recentemente pelo escritor Moreira Campos. Em seguida, as senhoras Yolanda Queiroz, Regina Fiúza e Zezé Campos (viúva de Moreira Campos) colocaram em Rachel o "colar acadêmico", usado por todos os imortais.

No seu discurso de saudação, Artur Eduardo Benevides denominou Rachel de "glória viva do povo cearense". Segundo ele, "enquanto pulsar o coração de Rachel, haverá sempre uma luz a iluminar nosso Estado nos caminhos da história".

Artur Eduardo Benevides também saudou o centenário da Academia Cearense de Letras (ACL) criada a 15 de agosto de 1894, e lembrou a trajetória dos 11 presidentes da Academia que o antecederam. Ao discursar, Rachel de Queiroz disse que deixava de lado qualquer pretensão acadêmica e falava "simplesmente com a paixão".

Primeiramente, saudou os amigos acadêmicos já falecidos, entre os quais o próprio Moreira Campos, a quem substituiu na cadeira 32. Citou também Antônio Sales e lembrou a importância do escritor para a sua obra. Ao final o Presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Josué Montello, e o governador Ciro Gomes saudaram a posse da escritora. O coral Porta-Voz encerrou a solenidade.

Fonte: O Povo, de 11/08/24. O Povo é história. p.2.


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