A Academia
Cearense de Letras é a mais antiga das instituições do gênero que existem no
Brasil. Quando surgiu, em 1894, O POVO ainda nem existia, situação compensada
na época do seu centenário em 1994, pelo generoso e merecido espaço que
ocuparia nas páginas do jornal.
* desde
1928: As notícias reproduzidas nesta seção obedecem à grafia da época em que
foram publicadas.
11 de agosto de
1994
Centenário
A Academia Cearense de
Letras, a primeira a ser criada no Brasil,
está completando 100 anos. Dentre as comemorações, das quais o ponto alto é a posse
da escritora Rachel de Queiroz, consta também a formação de uma pinacoteca com
trabalhos recém-doados por 19 artistas plásticos cearenses. Roberto Galvão,
José Mesquita, Floriano Teixeira, Aldemir Martins, Carlos Costa, Áscal,
Patrícia Alkary, Eduardo Frota, Eduardo Eloy, Sebastião de Paula, Marcus
Jussier, Pedro Eymar, Gilberto Cardoso, Marcio Ary, Herbert Rolim, Heloysa
Juaçaba, Helio Rola, Sérgio Lima e José Guedes.
15 de agosto de
1994
ACL é a 1ª do
País
Em 15 de agosto de 1894, Guilherme Studart (Barão de Studart) fundou
a Academia Cearense de Letras, em sessão no salão nobre da Fênix Caixeiral, à
época funcionando nos altos do prédio da esquina da rua Floriano Peixoto com
São Paulo. Coordenada inicialmente por uma diretoria provisória, pouco tempo
depois foi eleita a definitiva. De Tomás Pompeu a Artur Eduardo Benevides a
entidade, que cultiva e desenvolve as letras no Ceará, teve 12 presidentes.
Segundo o historiador Raimundo Girão, em livro publicado, a
ACL ostenta três título de glória. Foi representada, em 1897, na inauguração
da estátua de José de Alencar, na capital da República, por Machado de
Assis. Cabe-lhe a primazia de haver pleiteado a criação da Faculdade de Direito,
através de Farias Brito e, por realizar duas sessões (17 e 19 de agosto de
1922) em uma casa de Governo, o Palácio da Luz. Hoje atual sede.
A época da fundação, se chamava Academia Cearense. Por sugestão de Leonardo Mota fundiu-se com a Academia de Letras do Ceará, ganhando a denominação Academia
Cearense de Letras, em 1951. Antes da sua
primeira sede própria realizava sessões na Fenix Caixeiral, Clube Euterpe (no
Instituto do Ceará), na residência de Walter Pompeu, Clube Iracema, Instituto
Pessoa, casa de Dolor Barreira e na de Tomás Pompeu. De lá se transferiu
para a Palácio do Progresso, depois ocupou o Palácio Senador Alencar.
Homenagem
José Bonifácio Câmara, cearense do Rio, que veio para o centenário
da ACL traz a informação que o evento merecerá homenagem da Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes do Rio de
Janeiro e da Casa do Ceará, sessão da
qual ele será o orador oficial.
Efervescência
cultural - Editorial
Fortaleza viveu, ontem, três eventos marcantes para a vida cultural
do Estado: a abertura da exposição "Bienal Brasil Século XX", a posse
da escritora Rachel de Queiroz, na Academia Cearense de Letras, e o Centenário
da própria ACL.
A Capital cearense foi escolhida como uma das únicas cidades
brasileiras - as outras são Porto Alegre e Rio de Janeiro - a ter o privilégio
de expor uma seleção do mais importante painel de artes plásticas realizado no
Brasil, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A "Bienal Brasil Século
XX" desperta grande interesse nos meios culturais internacionais e será
apresentada no Exterior, depois de cumprir o compromisso assumido com essas
três capitais brasileiras.
Quanto à posse de Rachel de Queiroz, na Academia Cearense de
Letras, foi outro evento bastante concorrido como tributo a uma das filhas mais
ilustres que o Ceará partilha com o Brasil. Membro destacado da Academia
Brasileira de Letras a escritora é uma das expressões mais genuínas da
inteligência nordestina, sem cuja contribuição a literatura nacional deixaria
de ter recebido o "sal da terra", mantenedor de uma identidade rica e
complexa. Em pleno vigor de sua atividade criativa Rachel de Queiroz é um grande
caudal que, a exemplo do Nilo, fertiliza com sua placidez e opulência humífera
a literatura nacional. Escolhemos a data mais significativa de nossa maior
instituição cultural - o Centenário da ACL - para externar -lhe o carinho, o
orgulho e o reconhecimento do povo cearense por sua fidelidade às raízes
culturais e afetivas.
Por termos raízes é que foi possível celebrar, ontem, um século de existência da Academia Cearense de Letras,
a instituição mais antiga do gênero, no Brasil. O
pioneirismo representado por aquele ato de 15
de agosto de 1894, através das mãos do Barão de Studart,
foi mais uma sinalização do quanto o Ceará conseguia
desenvolver uma capacidade prospectiva, antenando-se com as aspirações - muitas
vezes, embrionárias - da alma nacional, como já tinha sido provado no episódio
pioneiro da libertação dos escravos.
A ACL, ao longo de um século, foi-se firmando como um centro
aglutinador da identidade cultural cearense, acumulando um importante lastro de
contribuições ao patrimônio literário nacional. Essa participação cearense
antecede a própria ACL, com José de Alencar - criador efetivo do romance
nacional - e, depois, com Rodolfo Teófilo, Franklin Távora, Rachel de Queiroz, José
Albano, Artur Eduardo Benevides, Moreira Campos e tantos outros que testemunham
o gênio cearense.
Academia faz
100 anos e recebe Rachel em festa
"Não é a Academia que
homenageia Raquel, mas é Rachel quem homenageia a Academia ao ingressar nas
suas fileiras", disse o Presidente da Academia
Cearense de Letras, Artur Eduardo Benevides, ao saudar, em discurso, a posse da
escritora Rachel de Queiroz na cadeira de número 32, ontem à noite. A
solenidade, que contou com a presença do governador Ciro Gomes, do Presidente
da Academia Brasileira de Letras (ABL), Josué Montello, e de acadêmicos de
vários estados, também comemorou o centenário da ACL, a mais antiga de todo o
País e que teve suas instalações reformadas.
Rachel de Queiroz foi introduzida no auditório Ciro Gomes por um
grupo de imortais cearenses. Logo que chegou ao recinto, foi empossada por Artur
Eduardo Benevides na cadeira ocupada até recentemente pelo escritor Moreira
Campos. Em seguida, as senhoras Yolanda Queiroz, Regina Fiúza e Zezé Campos (viúva
de Moreira Campos) colocaram em Rachel o "colar acadêmico", usado por
todos os imortais.
No seu discurso de saudação, Artur Eduardo Benevides denominou
Rachel de "glória viva do povo cearense". Segundo ele, "enquanto
pulsar o coração de Rachel, haverá sempre uma luz a iluminar nosso Estado nos
caminhos da história".
Artur Eduardo Benevides também saudou o centenário da Academia
Cearense de Letras (ACL) criada a 15 de agosto de 1894, e lembrou a trajetória
dos 11 presidentes da Academia que o antecederam. Ao discursar, Rachel de
Queiroz disse que deixava de lado qualquer pretensão acadêmica e falava
"simplesmente com a paixão".
Primeiramente, saudou os amigos acadêmicos já falecidos, entre os
quais o próprio Moreira Campos, a quem substituiu na cadeira 32. Citou também
Antônio Sales e lembrou a importância do escritor para a sua obra. Ao final o
Presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Josué Montello, e o
governador Ciro Gomes saudaram a posse da escritora. O coral Porta-Voz encerrou
a solenidade.
Fonte: O Povo, de 11/08/24. O Povo é história. p.2.
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