Por Célia Perdigão (*)
Ali, nas cercanias do Campus do Pici, ao invés dos Zepelins do
tempo da segunda guerra mundial, aterrissaram dezenas de bonecas. Juntas,
constituíram um museu comunitário, chancelado pelas instituições oficiais. E o
que ele nos apresenta?
Lá na rua Deputado Joel Marques, uma singela e florida fachada nos
convida a entrar. De pronto, a sala do fazer, toda adornada com estampados
tecidos multicor, aviamentos e uma máquina de costura daquelas de suscitar
doces lembranças. Várias bonecas de tamanhos variados, suspensas, nos
cumprimentam.
Como são belas!
No cômodo a seguir, duas outras personagens mostram, em um painel,
a importante missão do museu. Na lateral, uma integrante de grande impacto. Sem
os sentidos regulares, sua fisionomia nos incita a múltiplas reflexões. E se...
Em sequência, o grande salão. Isoladas ou agrupadas por alguma
similaridade, lá estão quilombolas, brancas, originárias, pretas, portadoras de
deficiência física e até estrangeiras.
Lampião e Maria Bonita, palhaços, Emília e ciganas marcam presença.
Entre os mamulengos e dedoches, alguns despertam especial atenção.
A vovozinha, o lobo mau e a Chapeuzinho Vermelho integram uma única peça. Só
questão de movimento. A menina que nasce de uma flor na mesma toada. Delicadeza
de metamorfose.
Outros há que ocupam o pódio. A Metanki mágica, eslava, que protege
as famílias e quando se desmancha atende pedidos. Duas Abayomi, pretas, sem
linha nem agulha. Acredite, apenas nós. A turma do meio ambiente com os entes
da floresta. Presença essencial nos tempos que sobrevivemos. Para concluir, a
turma do Bumba meu Boi com estandarte e tudo. Muita cor, brilho e beleza. Estão
dançando de verdade?
Agora a sala das oficinas e brincadeiras. Uma gigante vovó nos
aguarda com dois baús cheios de surpresas. Quantas possibilidades! Tudo sob o
olhar atento de peças de famosos escritores e até uma pequena boneca
compenetrada em sua gravidez.
Valeu, Professora Liduína. Seu sonho solitário é um motor possante,
gerador de magia, sonhos, memórias e belezas. Avante...
(*) Arquiteta. Especialista
em história e conservação de monumentos antigos na França.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/07/24. Opinião, p.22.
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