Por Kleber Carvalho, jornalista de O Povo
Medida
compõe estudo do Ministério da Saúde e deverá beneficiar inicialmente 45
pacientes; método é considerado menos invasivo e mais efetivo contra a doença
Os
pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) de Fortaleza terão uma nova opção de cirurgias
urológicas a partir do próximo mês. Firmado em convênio assinado pela
Prefeitura de Fortaleza e o Instituto do Câncer do Ceará (ICC) nesta
terça-feira, 23/09, o uso de robótica em operações contra o câncer no sistema
reprodutor masculino passará a ser ofertado gratuitamente na Capital.
A
medida faz parte de uma pesquisa do Programa Nacional de Atenção à Oncológica
(Pronon), gerido pelo Ministério da Saúde (MS), que deverá observar os
resultados de cirurgias feitas com auxílio de robôs em pacientes com câncer de
pênis e de próstata.
Ao
todo, 90 homens serão submetidos a Linfadenectomia Inguinal
Laparoscópica, cirurgia que consiste na retirada dos linfonodos da pelve.
Durante o processo, metade dos pacientes realizarão o procedimento aberto,
feito exclusivamente por humanos, enquanto os outros 45 terão o auxílio
robótico.
As
cirurgias com robôs não serão realizadas em todos os pacientes, mas sim
naqueles que têm quadros onde o uso de robótica se encaixa melhor. Segundo o
ICC, o objetivo é tornar o processo mais efetivo e cômodo para os enfermos.
“Tem
alguns pacientes que sim, terão grandes ganhos e terão um tratamento bem mais
efetivo, bem menos custoso, por ser uma cirurgia minimamente invasiva. Então há
determinados tipos de câncer para esses pacientes que serão atendidos pelo robô
e outros seguirão o método tradicional, que já é consolidado e também tem muita
eficiência”, comenta o diretor de estratégias e relações institucionais do
ICC, Pedro Meneleu.
O
objetivo da ação é analisar a eficácia do procedimento robótico no combate aos
cânceres, como o de pênis, que, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de
Urologia (SBU), resultou em 459 amputações do membro no ano de 2022.
Além
de maior efetividade, também se espera que a cirurgia robótica dê mais conforto
ao paciente, com menor tempo de recuperação e menos incômodos na região
pélvica, como destaca o urologista e titular da Secretaria Municipal da Saúde
de Fortaleza (SMS), Galeno Taumaturgo.
“Na
cirurgia de próstata aberta, que é a minha área, normalmente você deixa de 15 a
20 dias o paciente de sonda. Na cirurgia robótica são cinco dias de sonda. O
paciente quase não sente dor. A possibilidade de lesão em nervos que levam à
disfunção erétil também é menor porque ela faz com mais precisão. Não tem o
tremor que normalmente o ser humano tem”, explica o secretário.
De
acordo com a SMS, as primeiras 45 cirurgias urológicas, que servirão de base
para o estudo, serão custeadas pelo Pronon. Em caso de sucesso nas operações,
há previsão também de um investimento na casa dos R$ 6 milhões, feito pela
Prefeitura de Fortaleza, para o uso do método em outras operações de oncologia.
Serviço
é o primeiro da rede pública no Norte e Nordeste
Fortaleza
será a primeira cidade das regiões Norte e Nordeste a ofertar o uso de robótica
no sistema público de saúde. Já existente na rede privada o método tem alto
valor de custeio, o que o tornava inacessível para pacientes de menor poder
aquisitivo.
De
acordo com o coordenador médico do programa de cirurgia robótica do ICC,
Emanuel Veras, o método já é utilizado no Brasil há pelo menos 15 anos, em
especial nos hospitais da região Sudeste. No Norte e Nordeste, ele já se faz
presente, mas apenas na rede privada de saúde.
“É
uma tecnologia ainda cara, inclusive para o meio privado, porém, com o
desenvolvimento da tecnologia ela está se tornando mais acessível, e aí
[existe] a possibilidade de a gente beneficiar também esses pacientes do
Sistema Único de Saúde através de projetos de pesquisa e parcerias”,
afirma o urologista.
Com
a chegada do serviço ao SUS da Capital, a expectativa é de que esse serviço
seja ampliado. Inicialmente a previsão é de que, após os resultados das 45
primeiras cirurgias, novos pacientes da rede municipal de saúde com câncer de
pênis sejam beneficiados com a ampliação do atendimento no ICC.
Depois,
também há previsão de que operações de outros órgãos, como os rins, sejam
incluídas no convênio. Os equipamentos para essa ampliação devem chegar
concomitantemente ao início das primeiras cirurgias, em outubro, mas ainda não
há data para começarem a ser utilizados.
Principal
referência de saúde no Estado, a Capital recebe pacientes oncológicos vindos de
diversas regiões do Ceará. Conforme a SMS, o previsto é que essas
pessoas vindas do Interior também realizem cirurgias no ICC, a depender do
quadro que apresentarem.
"Todo
e qualquer paciente aqui [em Fortaleza], ele é tratado de acordo com a
gravidade do seu caso e com a indicação de tratamento que vai lhe caber. A
questão da origem não é uma barreira para isso", aponta
coordenadora de regulação, controle e auditoria da SMS, Helena Guerra.
Fonte: O Povo,
de 24/09/24. Cidades. p.16.
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