Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Em um de seus chistes, Delfim Netto julgou o sedentarismo uma forma
de prolongar a vida, ao afirmar: "A ginástica é uma das piores coisas para
a sobrevivência. O coração tem um limite de batimentos cardíacos. Após
atingi-lo, o músculo para. Sendo assim, atividades físicas que aumentam a
frequência cardíaca, como a corrida, aumentam esse consumo e, portanto,
encurtam a vida." Na madrugada de 12/08/24, o seu coração atingiu o
limite.
Meu pai, Ari de Sá Cavalcante, tornou a Faculdade de Ciências
Econômicas da UFC uma das melhores do Brasil; trouxe destaques da USP e um
desses foi Delfim, considerado czar da economia brasileira de 1967 a 1974. Foi
ministro de 3 presidentes e deputado federal durante 21 anos, inclusive,
constituinte em 1988. A amizade entre anfitrião e convidado possibilitou-me
perguntar a este por que FHC preferira Serra a Tasso para candidato a
presidente pelo PSDB. A irônica resposta foi: "O Fernando sabia que o
Tasso faria melhor que ele."
Delfim tinha grandes qualidades e também possuía defeitos, mas quem
não os tem? O economista foi um dos signatários do AI-5, porém alegava que, à
época, o ato era necessário, e não esperava que torturas e outras coisas ímpias
viriam. Segundo Marcos Lisboa, "Pode-se discordar de Delfim. Pode-se
criticar muitas de suas escolhas na vida pública. A ditadura foi deplorável. Em
vários momentos, critiquei severamente opções de política econômica que ele
defendeu com o maneirismo usual. Mas não se pode deixar de ler Delfim". E
acrescenta: "Delfim tem o mérito adicional da prosa sinuosa, elegante e
sutil. Sua crítica parece um truque de mágico. Convida-nos a olhar sua mão
direita, quando a surpresa vem pela esquerda." E dizia, de acordo com a
mídia, ter sido três: "o 1º, um socialista fabiano, adepto do movimento
inglês surgido no século XIX e que defendia a implantação do socialismo por
meio de reformas graduais. O 2º, o homem do governo militar. E o 3º, o que
contribuiu no fim da vida com as políticas sociais dos primeiros governos
Lula." Talvez os segredos de sua longevidade tenham sido
"poupar" o coração e se reinventar até o fim, aos 96 anos.
(*) Reitor do FB UNI e
Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/08/24. Opinião, p.20.
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