terça-feira, 10 de setembro de 2024

DIVERTIDAMENTE VELHAS

Por Márcia Alcântara Holanda (*)

Recentemente, minha amiga Rita e eu decidimos ver o filme "Inside Out 2" (Divertida Mente 2). No cinema contei que quando falei em casa que íamos assistir, veio uma celeuma: "Vocês vão ver filme de adolescente? Estão regredindo?" Respondi sem titubear: "Sim! Somos velhas, mas ainda temos vida e curiosidade para conhecer quais e como são as emoções dos adolescentes hoje."

Rita perguntou: "Pra quê? Já passou!" Eu disse: "Sim, mas a resenha do filme trata de emoções da adolescente Riley vividamente. Vale a pena conhecer." Ela disse: "Vai nos fazer refletir sobre nossas próprias emoções agora." Concordei.

Foi 1h20min fixada à abordagem inteligente e perspicaz de emoções humanas, retratadas em formato eletrônico que ditavam a mente de Riley. Emoções, representadas de forma personificada como alegria, ansiedade, vergonha, tédio, tristeza, se manifestavam conforme Riley vivia. Mostrando como ela reagia a cada uma, em atitudes e ações.

Esse movimento nos abriu bem os olhos, apurou os ouvidos e gargalhamos das representações ora ingênuas, ora sarcásticas, mas sempre bem decodificadas. Vimos emoções esbarrando, desolando-se, descontrolando-se, crescendo e escondendo-se o quanto podiam. A ansiedade que agitava as cenas não venceu a alegria que driblava a força das crises ansiosas. Cada emoção surgia conforme Riley vivia.

Filme contagiante: Da alegria ao desgosto, uma emoção divertida. Reconhecemos através delas como influenciam nossas vidas, mesmo velhas. Temos momentos simples que trazem alegria, perdas que entristecem, raiva que desonera a mente e nos faz agir, às vezes, com incongruência. As injustiças sociais que tornam os velhos invisíveis desolam, geram tédio e, às vezes, melancolia.

Entusiasmadas com as cenas conectamo-as às nossas vidas. Rita disse: "É bom lembrarmos da célebre afirmação de Sartre em 'A Idade da Razão', de que a velhice é irrealizável porque as limitações corpóreas impostas pela idade podem nos impedir de alcançarmos uma síntese plena de nossa identidade e consciência." Concordei: "Isso mesmo, mas não nos impede de ajustarmos nossas perspectivas viabilizadoras, como e quando quisermos e pudermos. Liberdade para isso, os velhos têm."

Tomamos um café e nos abraçamos, marcando uma apresentação de jazz no CLUBE 5 e nos divertir, velhas assim.

(*) Médica pneumologista; coordenadora do Pulmocenter; membro honorável da Academia Cearense de Medicina.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 14/08/2024. Opinião. p. 19.


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