Nunca peça penico, jamais peça
pra obrar e sair!
Oportunidade
apareceu e Zé Milton, bufo! Agarrou! Se mandou pra China, aos 30 de idade. Lá
trabalhou por 35 anos com catrevagens que fazem o maior sucesso nos sex shops
daqui - algemas de metal, lubrificantes corporais, lingeries, vibradores. Pois
bem. O homem voltou de lá rico, trazendo da Ásia três caixas grandes desse
material, guardadas a sete chaves no apartamento de 250m2 comprado à
vista. Ultrapassando hoje a casa dos 60, botou os pés na terrinha e casou. Tá
junto com a mulher tem semanas; parelhos na idade.
Ela
não sabia dos produtos made in China escondidos, vindo a descobrir as tais
caixas mais tarde, sem, contudo, abri-las e ver os conteúdos.
-
Zé! Que caixonas são essas na despensa?
-
Perfumes, Glorita! Perfume que eu trouxe da China!
-
Cheiro estranho! Bora rebolar no mato?
-
Bora, amor! Você que manda! Jogue fora tudim!
Autorizada
a ver-se livre daquilo, Glorita pede ao zelador do prédio que dê fim aos
"perfumes", acondicionados nas enormes caixas de papelão, contendo
dezenas de caixotes nelas. Crente que era algum Vetiver vencido, o encarregado
da limpeza do condomínio ficou com uma caixinha, pra presentear a paquera
Virgínia, solteirona da igreja que frequenta, nunca dantes flagrada com alguém.
A "moça véa", cara de desdém, abre a caixa lentamente, joga a mão
dentro e... ó susto magistral! Agarra (ainda na validade) um vibrador ponto G
aveludado com formato golfinho. O grito dela?
-
Aaaaaaaaaaiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!! Meus Deus!!!!!!!!!!!!!!! Santo, santo,
santo!!!!!!!!!!!!!
Resultado,
largou a igreja e pediu o zelador em casamento. A declaração, sábias frases de
um para o outro:
-
Nunca peça penico, meu bem! Corra atrás dos seus sonhos que nem eu!
-
Glorita.
-
Pedir pra obrar e sair antes do jogo terminar, jamais! Você se garantiu,
querida! - zelador.
O céu é dos pedreiros
Nêgo
Zezé da Cabras, da Vila dos Industriários, foi o melhor meia-direita que vi em
campo, além de mestre de obra de inigualável gabarito. Joelho quengado, largou
a pelota e maneirou na construção civil. Há um ano, pra não ficar parado,
entrou pra lei dos crentes. Aos domingos, irmão Zezé agora arrasta multidão ao
culto: mulher, filhos, demais parentes e aderentes e amigos que lhe comungam a
fé fervorosa; uns 30 vão com ele, em média, rezar. Obreiro querido, trabalhador
da última hora, craque evangélico.
Numa
das pregações vespertinas, o pastor ensina que seremos todos julgados por
nossas obras. Pessoal do Zezé aplaude efusivo a assertiva, voltando o olhar
para o recém-convertido, como a constatar sem nenhuma dúvida: "Esse é o
cara, Senhor! Tem obra a mostrar! E é de ruma!" Pastor insiste: "Só
as obras interessam na Contabilidade Divina". De novo Zezé é saudado pelos
seus, com singular admiração. "Tem lugar garantido no Paraíso". Gente
chorando de emoção.
Terminado
o culto, do lado de fora do templo, um dos familiares - o mais afoito e
animado, bem fortão - bota o ex-meia-direita nos ombros e comemora, aos gritos.
-
Aleluia, Senhor, aleluia! Tio Zezé vai 'dicretado' ao encontro de Jesus!!!
O
próprio eleito do Pai Celeste, ao que parecia a todos, se pronuncia enfim. E
todos entendemos mais perfeitamente o porquê da certeza de que ele é o ungido:
-
Realmente, como mestre de obra levantei 50 casas, 30 bodegas e oito oficinas.
Sem contar que, avulso, reboquei 200 muros, pintei 300 paredes e cimentei 17
fossas etc....
Fonte: O POVO, de 26/07/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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