Por Sofia Lerche Vieira (*)
O Brasil comemora com alegria suas escassas vitórias nos Jogos
Olímpicos de Paris 2024, onde o grande brilho é das mulheres. As histórias de
vida dos atletas medalhistas veiculadas pela mídia deixam uma impressão de que
a maioria deles parece compartilhar uma história de superação.
É bonito vê-los no podium, entre risos e lágrimas, celebrando uma
vida de esforço e dedicação ao esporte em que se destacam. Os brasileiros, de
algum modo, reencontram os sentimentos de autoestima que vivenciavam com Ayrton
Senna ou com a conquista da Copa do Mundo pela seleção de futebol, coisa que há
muito desapareceu de nosso sonho coletivo. Ao nos congratularmos com amigos e
desconhecidos, expressamos tal familiaridade com estes seres especiais de alta
performance, que até parecem velhos conhecidos; o que, de fato, não são.
O que faz um grande atleta, para além das virtudes já sabidas?
Tomando por referência pequenos recortes das competições e falas dos
vencedores, é possível construir uma imagem da força invisível por trás de cada
estrela que lá chegou e se consagrou. Bia Souza, nossa judoca de ouro, é um
exemplo de inspiração nesse sentido. Ao vê-la entrar em disputa, tem-se a visão
de um ser com claro domínio da arena em que se move. Sua conduta no espaço do
tatame difere da de suas adversárias que expressam de forma visível a tensão
angustiante do momento. Movimentando-se com a calma e precisão de um felino,
não perde tempo. Na hora exata, ataca. Sem deixar espaço para o erro, vence.
Observá-la em cena faz lembrar um guerreiro zen. Um samurai. Uma deusa do
Olimpo que desceu à terra...
Suas declarações trazem à pauta alguns de seus segredos: o esforço
que faz valer "uma vida por um dia" e a aprendizagem de uma confiança
que a levou a amar-se incondicionalmente, tal como é. Bia se assume e escancara
a liberação de se reconhecer linda, feliz e totalmente fora do padrão. Eu me
amo, ecoam suas palavras. Tu te amas? Valeria perguntar e repetir em coro a
milhares de brasileiras em luta cotidiana na direção contrária. Bia, preta GG,
mulher ouro, você é a cara do Brasil. Nós te amamos!
(*) Professora do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/08/24. Opinião. p.22.
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