segunda-feira, 16 de setembro de 2024

UMA VIDA POR UM DIA

Por Sofia Lerche Vieira (*)

O Brasil comemora com alegria suas escassas vitórias nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, onde o grande brilho é das mulheres. As histórias de vida dos atletas medalhistas veiculadas pela mídia deixam uma impressão de que a maioria deles parece compartilhar uma história de superação.

É bonito vê-los no podium, entre risos e lágrimas, celebrando uma vida de esforço e dedicação ao esporte em que se destacam. Os brasileiros, de algum modo, reencontram os sentimentos de autoestima que vivenciavam com Ayrton Senna ou com a conquista da Copa do Mundo pela seleção de futebol, coisa que há muito desapareceu de nosso sonho coletivo. Ao nos congratularmos com amigos e desconhecidos, expressamos tal familiaridade com estes seres especiais de alta performance, que até parecem velhos conhecidos; o que, de fato, não são.

O que faz um grande atleta, para além das virtudes já sabidas? Tomando por referência pequenos recortes das competições e falas dos vencedores, é possível construir uma imagem da força invisível por trás de cada estrela que lá chegou e se consagrou. Bia Souza, nossa judoca de ouro, é um exemplo de inspiração nesse sentido. Ao vê-la entrar em disputa, tem-se a visão de um ser com claro domínio da arena em que se move. Sua conduta no espaço do tatame difere da de suas adversárias que expressam de forma visível a tensão angustiante do momento. Movimentando-se com a calma e precisão de um felino, não perde tempo. Na hora exata, ataca. Sem deixar espaço para o erro, vence. Observá-la em cena faz lembrar um guerreiro zen. Um samurai. Uma deusa do Olimpo que desceu à terra...

Suas declarações trazem à pauta alguns de seus segredos: o esforço que faz valer "uma vida por um dia" e a aprendizagem de uma confiança que a levou a amar-se incondicionalmente, tal como é. Bia se assume e escancara a liberação de se reconhecer linda, feliz e totalmente fora do padrão. Eu me amo, ecoam suas palavras. Tu te amas? Valeria perguntar e repetir em coro a milhares de brasileiras em luta cotidiana na direção contrária. Bia, preta GG, mulher ouro, você é a cara do Brasil. Nós te amamos! 

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/08/24. Opinião. p.22.

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