Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Não nasci convicto do
que fazer no futuro. Sou do tipo que vai fazendo, com amor e muita dedicação,
e, assim, deixo levar.
As ocorrências dos
tempos são, ao meu entender, algumas coincidências esperadas pelo acaso. Não
temo as emoções, apenas as obtenho pelo corpo e pela alma que credita à vida
uma mensagem. Assim, não me assumo como diferente, pois, ser mensageiro da
imagem dos queridos que se foram é, para mim, a obra da vida que se firma a
cada minuto e na medida que o tempo passa.
Nasci de uma mãe e de um
pai como todos nós. Para mim eles eram únicos, de carne e osso, nas angústias e
nos medos, nos desejos e na esperança. Creio nisso com intensidade, a qual
advém da convicção do destino, dessa caminhada biológica e espiritual. Vivi,
assim, os momentos de desacertos e afetividade, fui uma criança em compreensão
e um adulto nas razões, que hoje as enxergo como frágeis, por vezes, tolices
absolutas. Espero ter me decidido, em corpo e emoção, por abandona-las. Já que
com o passar do tempo já não creio em uma só verdade, uma só aspiração.
As lembranças são marcas
do passado, presentes cada vez mais a medida do envelhecimento, e,
principalmente, quando nos aproximamos da morte. Essa, traz em si, as
lembranças mais intensas, é quando ficam cada vez mais vivas.
A política, que exerci,
foi mais um desafio às minhas convicções. Assim como a doença, que nos maltrata
quando se apresenta, e em vez de passar, deixa marcas, também frutos do quê
humano e das nossas contradições.
Cada ato, ao passar do
tempo, induz um tom, e abre abismos na forma inocente que habitamos.
Simplesmente, por crer
na utopia, mesmo sob os percalços, mesmo andando sozinho, sinto-me aliviado
pela certeza da passagem, dos encontros e desencontros, vendo a justiça que não
tem forma, e que, enfim, transcende aos conceitos, vem ao tempo da maturidade
de cada momento. E, também, pela compreensão sobre as pessoas, que andam agora
em caminho incerto, rebuscado de medo e agressões, titubeando entre o que se
entende de amor e felicidade.
Aos meus filhos entrego
o meu suor, demonstrando diariamente que precisamos cumprir o nosso destino.
Mas, principalmente, que é justo se reinventar, nascer todo dia, sonhar por
sonhar.
A meu ver, o futuro é
decerto a denúncia de um passado errante. Mesmo quando é espelho de várias
gerações e de projeções cada vez mais distantes, vaticina o nosso ser mais
frágil, em nossas partes mais crianças.
Certo assim, que tudo
será algo abstrato, e por isso impalpável, sentir energia pura, renovação e
esperança dos caminhos que virão, já que não são, em instantes, os atuais. Eis
que já são passado...
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/08/2024. Opinião. p.19.
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