Por José Nelson Bessa Maia (*)
No dia 15 de
agosto de 1974 em Brasília, o então chanceler do Governo Militar, Azeredo da
Silveira, e o vice-ministro do Comércio chinês, Chen Chien, formalizaram o
restabelecimento das relações bilaterais, suspensas em 1949. Os dois governos
concordaram em entabular relações amistosas com base nos princípios de respeito
recíproco à soberania e à integridade territorial, não-agressão,
não-intervenção nos assuntos internos de um dos países por parte do outro, além
de vantagens mútuas e coexistência pacífica. No entanto, as relações só vieram
a adensar-se a partir do início do século XXI quando a China se tornou membro
da Organização Mundial de Comércio (OMC) em 2001.
Nesses 50 anos
houve um aumento formidável no comércio sino-brasileiro, tendo a China se
tornado em 2009 o maior parceiro comercial do país. Naquele ano, a corrente de
comércio bilateral somou US$ 36,1 bilhões. O Intercâmbio cresceu a cada ano,
tendo chegado em 2023 a US$ 105,7 bilhões, um terço de todo o comércio exterior
do Brasil. As relações se ampliaram em áreas como ciência e tecnologia,
investimentos e cooperação técnica e cultural, além da concertação geopolítica
e na governança global. Tanto que, em 2006, Brasil e China se aliaram na
formação do BRICS, ao lado de Rússia, Índia e depois a África do Sul, um bloco
que trata de cooperação, crescimento econômico e desenvolvimento.
Apesar dos logros
obtidos nessas cinco décadas, Brasil e China precisam aprofundar e qualificar
suas trocas mútuas. As relações bilaterais devem atingir novos patamares e a
cooperação envolver uma parceria estratégica em ciência, tecnologia limpa e
inovação. O Brasil precisa melhorar a composição de valor agregado de suas
exportações para a China e ampliar o acesso a avanços chineses em campos como
infraestrutura, mobilidade urbana, economia digital, audiovisual e fármacos.
Espera-se que a
vinda do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil em novembro próximo para a
reunião de Cúpula do G-20 e visita de Estado possa finalmente deslanchar essa
nova etapa nas relações bilaterais, inclusive com a adesão bem negociada do
Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI) e o maior acesso ao gigantesco
mercado chinês para seus produtos e serviços.
(*) Mestre em
Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB e ex-secretário de
Assuntos Internacionais do governo do Ceará. Pesquisador independente das relações China-Brasil, China-Países
Lusófonos e China-América Latina.
Fonte: O Povo, de 16/08/24. Opinião. p.21.
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