terça-feira, 3 de setembro de 2024

OS 50 ANOS DAS RELAÇÕES BRASIL-CHINA

Por José Nelson Bessa Maia (*)

No dia 15 de agosto de 1974 em Brasília, o então chanceler do Governo Militar, Azeredo da Silveira, e o vice-ministro do Comércio chinês, Chen Chien, formalizaram o restabelecimento das relações bilaterais, suspensas em 1949. Os dois governos concordaram em entabular relações amistosas com base nos princípios de respeito recíproco à soberania e à integridade territorial, não-agressão, não-intervenção nos assuntos internos de um dos países por parte do outro, além de vantagens mútuas e coexistência pacífica. No entanto, as relações só vieram a adensar-se a partir do início do século XXI quando a China se tornou membro da Organização Mundial de Comércio (OMC) em 2001.

Nesses 50 anos houve um aumento formidável no comércio sino-brasileiro, tendo a China se tornado em 2009 o maior parceiro comercial do país. Naquele ano, a corrente de comércio bilateral somou US$ 36,1 bilhões. O Intercâmbio cresceu a cada ano, tendo chegado em 2023 a US$ 105,7 bilhões, um terço de todo o comércio exterior do Brasil. As relações se ampliaram em áreas como ciência e tecnologia, investimentos e cooperação técnica e cultural, além da concertação geopolítica e na governança global. Tanto que, em 2006, Brasil e China se aliaram na formação do BRICS, ao lado de Rússia, Índia e depois a África do Sul, um bloco que trata de cooperação, crescimento econômico e desenvolvimento.

Apesar dos logros obtidos nessas cinco décadas, Brasil e China precisam aprofundar e qualificar suas trocas mútuas. As relações bilaterais devem atingir novos patamares e a cooperação envolver uma parceria estratégica em ciência, tecnologia limpa e inovação. O Brasil precisa melhorar a composição de valor agregado de suas exportações para a China e ampliar o acesso a avanços chineses em campos como infraestrutura, mobilidade urbana, economia digital, audiovisual e fármacos.

Espera-se que a vinda do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil em novembro próximo para a reunião de Cúpula do G-20 e visita de Estado possa finalmente deslanchar essa nova etapa nas relações bilaterais, inclusive com a adesão bem negociada do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI) e o maior acesso ao gigantesco mercado chinês para seus produtos e serviços.

(*) Mestre em Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB e ex-secretário de Assuntos Internacionais do governo do Ceará. Pesquisador independente das relações China-Brasil, China-Países Lusófonos e China-América Latina.

Fonte: O Povo, de 16/08/24. Opinião. p.21.

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